02 outubro 2017

Novas operações têm excesso de bancos coordenadores

Quando lançou sua oferta de ações de R$ 2,3 bilhões em 22 de setembro, a Rumo Logística tinha quatro bancos como coordenadores da transação. Dois dias depois, a republicação do anúncio da oferta já trazia nove bancos como responsáveis por vender os papéis. Longe de se tratar do esquecimento do nome de algumas instituições financeiras, a republicação do aviso da Rumo ilustra a disputa dos bancos por um espaço no recente "boom" de oferta de ações.

Bancos estrangeiros e locais, de crédito ou só de investimentos, não importa o perfil: todos reclamam que não é saudável para as transações ter tantos coordenadores. "Até fazer uma teleconferência vira um pesadelo porque é difícil coordenar um horário em que todos possam", diz um banqueiro. Com tantos interlocutores, o alinhamento das informações passadas a investidores também se torna mais complicado, o que, em última instância, pode comprometer a precificação das ações, de acordo com banqueiros.

Neste ano, tornou-se bastante comum ter IPOs (oferta inicial de ações) e "follow-ons" (oferta subsequente) com até nove bancos coordenadores. É um número muito acima do considerado ideal pelos próprios banqueiros, de três ou quatro bancos no máximo.

No entanto, apesar do coro de reclamação, tão logo apareça um IPO todos começam a se articular para também entrar no sindicato e ganhar parte da comissão paga pelas empresas.

O inchaço dos chamados sindicatos está relacionado, segundo banqueiros, com o crédito. Durante a recente crise econômica, as empresas ficaram mais dependentes de empréstimos novos ou da renegociação dos já contratados.

Isso criou uma vantagem para bancos com balanços maiores, como Bradesco BBI, Santander e Itaú BBA. Até o Safra, que pouco atuava em IPOs, participou da coordenação das ofertas da locadora de veículos Movida e da companhia aérea Azul.


Ao fazer um desembolso de crédito, muitas vezes os bancos já buscam conquistar uma participação em uma futura oferta de ações - não foram raros os casos em que parte dos recursos captados num IPO ou follow-on serviu para quitar dívidas com os próprios coordenadores da oferta. Para as empresas, também interessa manter uma boa relação comercial com quem empresta dinheiro. "Permitir a entrada de um banco no sindicato não traz um custo muito maior para a empresa e evita um desgaste comercial", diz um banqueiro.

Os documentos dos IPOs mostram que muitas vezes as comissões pagas são distribuídas de forma diferente entre os bancos do sindicato. No caso da resseguradora IRB, três bancos receberam 24,7% da comissão; um, 15,7%; e outros três, 3,4%.

Não são, no entanto, apenas os bancos de investimentos que tiram proveito da força do crédito. Durante a seleção do sindicato de bancos para fazer seu IPO, a Neoenergia pediu para as instituições indicarem o limite de crédito que estavam dispostas a conceder à companhia, segundo o Valor apurou. Procurada para falar sobre a escolha dos bancos, a empresa afirmou estar em período de silêncio.

Apesar de o crédito pesar na balança, é fato também que os principais emprestadores do país, como Bradesco e Itaú Unibanco, também desenvolveram plataformas mais robustas voltadas para a estruturação de ofertas de ações ao longo dos últimos anos. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 02/10/2017

02 outubro 2017



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