06 março 2018

J&F reduz fatia e patriarca assume controle do Original

Após a crise com o processo de delação premiada que levou à prisão dos principais acionistas, o controle do Banco Original discretamente mudou de mãos. O patriarca da família Batista, José Batista Sobrinho, e o filho mais velho, José Batista Junior, passaram a deter 51% da instituição após a operação, aprovada pelo Banco Central no fim do ano passado. A J&F Investimentos, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, agora possui 49% das ações - de 100% anteriormente.

Mesmo com os problemas dos controladores, o Original fechou o ano passado no azul, com lucro líquido de R$ 1,5 milhão. No ano anterior, o resultado do banco foi de R$ 43,6 milhões, mas foi inflado pela operação de venda da marca para os controladores, que gerou um ganho contábil de R$ 365,7 milhões. "Em 2017 tivemos lucro operacional, foi um resultado mais bem mais estruturado", afirmou ao Valor o diretor financeiro do Original, Carlos André da Silva.

A mudança no controle partiu de uma iniciativa dos próprios executivos do banco, dentro do plano de contingência criado para isolar o Original dos problemas envolvendo as demais empresas do Grupo JBS, segundo o diretor. A solução foi semelhante à encontrada pelo BTG Pactual após a prisão do então controlador André Esteves, quando os demais sócios assumiram a maioria das ações com direito a voto.

"O Original sempre teve uma posição de independência do controlador", afirma Silva. Isso não impediu o banco de sofrer os efeitos da crise de imagem do grupo, que ocorreu justamente no momento em que a instituição procura crescer com a abertura de contas correntes digitais. Ele diz que as condições de liquidez do banco só não foram afetadas mais seriamente porque a instituição já vinha adotando uma postura conservadora no crédito desde o início do ano.

Na "sala de guerra" criada para monitorar os desdobramentos do caso, um dos indicadores mais acompanhados pelos executivos foi o da saúde da marca, que monitora as menções recebidas em redes sociais e na mídia em geral. Em maio, logo após a divulgação da delação, o índice de citações positivas do banco caiu pela metade e atingiu apenas 30%, mas se recuperou nos meses seguintes, segundo Claudia Woods, diretora de marketing e canais do Original.

Em junho do ano passado, o banco negociou uma cessão de créditos para o controlador, no total de R$ 478 milhões. A operação ajudou a reduzir em 86% as despesas com provisões do Original no ano passado, para R$ 28 milhões. O índice de inadimplência também foi beneficiado com a operação e caiu de 4,53% para 3,13% em 12 meses.

O diretor do banco diz que a cessão da carteira foi boa para os dois lados.
"São operações que contam com garantias reais, muitas delas propriedades rurais, que interessam ao controlador", afirma. O negócio representa ainda o compromisso com o banco, no momento em que o grupo de desfez de vários ativos, segundo Silva.

Logo após o escândalo, havia a expectativa de que o Original fosse vendido.
No entanto, a dívida de R$ 3,5 bilhões dos controladores com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) eliminou as chances de uma negociação ir adiante.

Após a divulgação da delação, o Original contratou o escritório Sampaio e Ferraz Advogados e a consultoria Grant Thornton para fazer uma investigação na instituição. O processo foi concluído na semana passada e não foram identificadas evidências de que a administração ou os empregados atuais do banco realizaram práticas ilícitas vinculadas a atividades de corrupção. A J&F celebrou acordo de leniência com o Ministério Público em junho do ano passado. O Original aderiu formalmente ao acordo em outubro e vai remeter o relatório com as conclusões da investigação ao MPF.

Mesmo com todo o ruído provocado pela crise envolvendo os acionistas, o Original ganhou 300 mil novos correntistas em 2017 e encerrou o ano com 542 mil clientes de seu banco digital. "Poderíamos estar um pouco mais na frente se esse episódio não tivesse acontecido", afirma o diretor Marcelo Santos, responsável pela área de pessoa física do banco. Ainda assim, o número está acima da expectativa da instituição na época do lançamento do projeto, diz.

Os clientes de varejo respondiam por 11% do funding do banco, que encerrou o ano passado em R$ 5,8 bilhões, com prazo médio de 307 dias. A posição de caixa do Original era de R$ 1,3 bilhão em dezembro, de acordo com o balanço.

Para este ano, a expectativa é de um crescimento entre 30% e 40% no número de correntistas. Até 2019, o Original deve alcançar a marca de 1 milhão de contas, afirma Santos.

A carteira de crédito expandida do banco registrou queda de 5% em relação ao fim de 2016, para R$ 5,5 bilhões. A projeção para este ano é de um crescimento de 15% a 20% nos financiamentos, segundo o diretor financeiro.  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 06/03/2018


06 março 2018



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