09 março 2018

Com perfis parecidos, Intermédica e Hapvida vão disputar investidores

Terceira e quarta maiores operadoras de planos de saúde do país, NotreDame Intermédica e Hapvida vão testar nos próximos meses o interesse dos investidores pelo setor. Ambas, cujos pedidos de abertura de capital ocorreu quase que simultaneamente na semana passada, atendem o público popular e atuam com uma rede própria de hospitais e clínicas. Juntas, as duas companhias, pretendem levantar cerca de R$ 6 bilhões, segundo fontes do setor.

À primeira vista, Intermédica e Hapvida são muito semelhantes o que gerou questionamentos se há demanda para ofertas de ações de empresas tão parecidas. No entanto, o perfil dos controladores é totalmente distinto. A Intermédica está nas mãos da gestora de fundos Bain Capital e a Hapvida é controlada pela família Pinheiro.

Esse ponto deve ser um dos mais analisados pelos investidores no momento da decisão de compra do papel. Na visão de interlocutores do mercado financeiro e do setor de saúde, é inevitável uma canibalização e pressão para jogar o preço das ações para baixo, mas eles acreditam que existe, sim, demanda porque só 25% da população brasileira tem plano de saúde.

A Bain Capital controla a Intermédica há quatro anos e devido à natureza do seu negócio vai vender a operadora. Segundo fontes do mercado, no IPO, a Bain pode se desfazer de cerca de 25% do capital para levantar R$ 2,5 bilhões. Em 2014, quando comprou o ativo, a gestora pagou pouco menos de R$ 2 bilhões por toda a empresa fundada pelo médico Paulo Barbanti.

Uma vantagem para a Intermédica é que a americana Bain já é conhecida dos investidores estrangeiros, o que tende a facilitar as negociações, principalmente, quando comparada à Hapvida que nunca teve um acionista financeiro. Ao mesmo tempo, há um receio de que a Intermédica torne-se uma "corporation", sem um controlador após a saída da Bain. No Brasil, há poucos casos de sucesso de empresas com capital pulverizado, entre elas, a Renner e Kroton, mas seus presidentes têm uma gestão forte. A Estácio, por exemplo, não tem controlador e enfrentou problemas com uma tentativa de fusão, troca de quatro presidentes executivos em poucos meses, entre outros percalços, no ano passado.

A Hapvida é administrada pela família Pinheiro, que quer vender somente 15% do capital para manter o total controle do negócio que está em sua segunda geração. A meta do grupo, criado em Fortaleza, é captar R$ 3,5 bilhões para adquirir ativos de outras regiões como o Sudeste do país, praça da Intermédica. Um dos desafios da operadora é convencer os investidores estrangeiros que está preparada para lidar com as exigências de uma companhia de capital aberto. A primeira lição de casa a Hapvida fez com a contratação de um diretor financeiro com passagem pela M.Dias Branco, empresa de alimentação do nordeste com ações em bolsa. A operadora de Fortaleza tem ao seu lado os bancos BTG, BofA e Goldman Sachs.

Outro desafio da Hapvida é a sua carteira de planos individuais, que representa cerca de 35% - essa modalidade tem reajuste controlado pela ANS. Porém, esse ponto é questionável porque que o governo vem pressionando cada vez mais as operadoras para que elas ofereçam planos individuais.

"Não é uma decisão simples escolher qual o melhor papel. As duas operadoras têm pontos fortes e fracos e estão em momentos distintos. A Intermédica já fez muitas aquisições e a Hapvida é quem realmente sabe tocar uma operadora para baixa renda", disse Henning Von Koss, consultor do setor de saúde com passagem por operadoras como Hapvida e Amil.

"Acredito que a Intermédica saia um pouco mais cara porque a empresa já está mais organizada. Assim, pode ser uma oportunidade para comprar ação da Hapvida, mais barata, com a família fundadora que tem uma estratégia mais de longo prazo", disse o executivo de uma gestora de investimento.

Do lado da Intermédica, o presidente Irlau Machado e o diretor financeiro, Marcelo Marques, são reconhecidos no mercado por terem transformado a operadora desde que assumiram em 2014. Ambos têm contratos que exigem suas respectivas permanências por mais dois ou três anos, segundo fontes.

"Nos últimos anos, com a crise no país, a Intermédica herdou muitos clientes que fizeram "downgrade" de convênio médico. Com a retomada da economia, o desafio é conquistar efetivamente novos usuários", disse uma fonte do setor.

No IPO, a Intermédica é assessorada por Itaú BBA, Citi, Credit Suisse, J.P.
Morgan, Bradesco, Morgan Stanley e UBS.

Em relação à estratégia do negócio, as Unimeds devem ser alvo tanto da Intermédica quanto da Hapvida. As cooperativas médicas detém quase 40% do volume de usuários de planos de saúde e tem forte presença no Sul e cidades do interior. "A Intermédica fez a primeira aquisição de uma cooperativa médica, a Unimed ABC, e a Hapvida conquistou muitos usuários que eram da Unimed Fortaleza. Ou seja, as duas sabem como atuar no mercado da cooperativas médicas", disse Von Koss. Fonte: Valor Econômico Leia mais em tudofarma 09/03/2018

09 março 2018



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