16 fevereiro 2018

Além da primeira impressão

Quando a HP separou suas operações, a área de PCs e de impressoras era considerada o patinho feio. Dois anos depois, a empresa está mudando essa imagem

Reflexo: para Claudio Raupp, CEO da HP Inc. no Brasil, a separação trouxe mais autonomia e foco para a empresa - Por Moacir Drska

Quando a HP separou suas operações, em novembro de 2015, o mercado logo escolheu a sua menina dos olhos entre as duas empresas resultantes da divisão. Para boa parte dos investidores e analistas, tratava-se de uma barbada. A HPE, braço que acabara de herdar as ofertas de infraestrutura de tecnologia, tinha pela frente um campo fértil em segmentos com alto potencial de crescimento, como a computação em nuvem e a armazenagem de dados. Seu comando seguiria com a toda-poderosa Meg Whitman, até então, CEO do grupo. A executiva saíra fortalecida da cisão, depois de convencer os acionistas de que a melhor alternativa para a gigante era dividir para crescer. Nesse páreo, o papel de azarão coube a Dion Weisler. O executivo foi o escolhido para liderar a HP Inc., que reunia o portfólio em computadores pessoais e impressão, dois mercados em intenso e, para muitos, irreversível declínio. Para reduzir ainda mais as expectativas, a HP já havia falhado nas tentativas de replicar seu protagonismo dos PCs em categorias como os smartphones e os tablets. Poucos se arriscavam a apostar suas fichas – e dólares – na “novata”.

Passados pouco mais de dois anos, no entanto, o patinho feio virou cisne. De um valor de mercado de US$ 22,4 bilhões, no fim de novembro de 2015, a HP Inc. saltou para uma avaliação de US$ 35 bilhões. A empresa vem reportando crescimento tanto nos negócios de computação pessoal, como em impressão, algo que não ocorria desde 2010. Mais: apurou uma receita de US$ 52 bilhões no ano fiscal encerrado em 31 de outubro de 2017, um avanço de 8% sobre o exercício anterior. A HPE, por sua vez, ainda não conseguiu concretizar suas promessas. O valor de mercado da companhia caiu de US$ 25,8 bilhões, na época da separação, para os atuais US$ 25 bilhões. Em seu último ano fiscal, o faturamento recuou quase 5%, para US$ 28,8 bilhões. E o clima pouco favorável foi reforçado com o anúncio,em novembro do ano passado, da saída de Meg Whitman do posto de CEO.

Mas o que explica o desempenho, até aqui, surpreendente da HP Inc.? Ao que tudo indica, a empresa seguiu à risca o mantra propagado por Meg antes e durante a separação: mais enxutas, as duas operações teriam mais foco e agilidade para aproveitar as oportunidades em seus respectivos segmentos. “Antes, naturalmente, havia diversas áreas concorrendo pela atenção da CEO e do board”, diz Claudio Raupp, CEO da HP Inc. no Brasil. Ele observa que cada área de negócios vinha sendo impactada por diferentes disrupções. Volta e meia, a resposta necessária e urgente a essas tendências esbarrava no tamanho e nas prioridades da organização. “Hoje, estamos mais leves e somos donos de nosso próprio destino.”

Novo foco: a impressora móvel Sprocket é uma das apostas da área de impressão doméstica da HP Inc, liderada por Anneliese Olson , para ganhar espaço em novos mercados e categorias

A sensação de que a separação trouxe um novo fôlego para a HP Inc. não está restrita aos corredores da empresa. “Essa área estava sendo estrangulada pela perda de executivos, a má gestão e a falta de recursos”, diz Rob Enderle, analista da consultoria americana Enderle. “Com a nova estrutura, eles deixaram de ser um problema do qual Meg Whitman queria se livrar.” A comparação com o desempenho da coirmã é inevitável. “A HPE tentou abrir diversos caminhos, mas não atingiu massa crítica para competir com IBM e Dell”, afirma Roger Kay, analista da consultoria americana Endpoint. “Enquanto isso, a HP Inc. se concentrou exatamente no que sabe fazer melhor.”

Essa postura não significa que a HP Inc. está restrita aos seus mercados tradicionais. A empresa parece disposta a resgatar o espírito de garagem do Vale do Silício, do qual a antiga HP era o maior símbolo. A criação de novas categorias é um dos pilares. E a área de impressão para consumidores é um bom exemplo dessa abordagem. “A ideia é reinventar o nosso negócio. Não queremos arrastar o consumidor para o modelo antigo de impressão”, diz Anneliese Olson, executiva responsável pela divisão global de impressão doméstica da HP Inc. “Nós precisamos ir até onde as páginas e as fotos estão.”

Anneliese observa que, hoje, as pessoas tiram e compartilham cada vez mais fotos. No entanto, muitas dessas memórias ficam “esquecidas” em smartphones e tablets. Uma das tentativas da HP Inc. para preencher essa lacuna é uma impressora batizada de Sprocket. Do tamanho de um celular e com 170 gramas, o produto já está disponível no Brasil, pelo preço de R$ 899, ele permite imprimir, via bluetooth, as imagens armazenadas em dispositivos móveis, em formato 5×7. Também é possível editar as fotos, adicionando margens, textos, molduras e filtros, entre outras funções. No fim de 2017, a HP Inc. lançou uma nova versão da impressora no exterior, com uma câmera acoplada.


A incorporação de novas tecnologias de parceiros ao portfólio é mais uma ponta da estratégia. Em impressão, por exemplo, a empresa está adicionando recursos de assistentes pessoais de voz aos seus equipamentos. Estão nessa lista o Google Assistant, do Google, a Cortana, da Microsoft, e a Alexa, da Amazon. A companhia também está começando a testar aplicações de realidade aumentada. “A HP Inc. está aprimorando seus produtos e buscando expandir o seu mercado”, diz Enderle. “Trazer esse espírito inquieto de volta propiciou um caminho sólido para restaurar a saúde desses negócios.”

A HP Inc. também está investindo em áreas adjacentes aos seus negócios tradicionais, como a impressão 3D e as impressoras digitais para projetos gráficos customizados. Nas ofertas corporativas, o grande passo foi dado no fim de 2016, com a aquisição da divisão de impressão da Samsung, por US$ 1,05 bilhão. A empresa teve acesso a mais de 6,5 mil patentes e fortaleceu sua presença no formato A3, um mercado estimado em US$ 55 bilhões. E, de quebra, incorporou a brasileira Simpress, líder no mercado local de serviços de terceirização de impressão e que havia sido adquirida pela Samsung no fim de 2014. “Há alguns anos, não teríamos feito um movimento desse porte”, diz Anneliese. No último ano fiscal, a divisão de impressão da HP Inc. faturou US$ 18,8 bilhões, um avanço de 3%. No período, o mercado cresceu 1%.

A área de PCs também acumula bons resultados. Enquanto o mercado global recuou 2,8%, em 2017, segundo a consultoria Gartner, o faturamento da HP Inc. no segmento cresceu 11%, para US$ 33,3 bilhões. No período, com uma fatia de 21%, a empresa desbancou a liderança da chinesa Lenovo. Em linha com a estratégia global, no Brasil, a companhia priorizou a oferta de máquinas mais sofisticadas. E, com maior foco em clientes empresariais, buscou racionalizar sua presença nas lojas físicas, onde a guerra de preços cada vez mais dá o tom da competição. Como parte desse movimento, licenciou sua marca Compaq, de PCs mais populares, para a brasileira Global K.

Até aqui, o caminho percorrido pela HP Inc. fez com que uma parcela representativa do mercado mudasse sua percepção sobre a operação. No entanto, ainda existem dúvidas quanto à capacidade de sustentação desse bom momento no longo prazo. Uma prova dessa desconfiança foi dada no fim de novembro do ano passado, quando as ações da companhia chegaram a cair 5%, logo após a divulgação do balanço do ano fiscal de 2017. Alguns analistas destacaram o desafio de seguir crescendo no mesmo ritmo, especialmente com a base alta de comparação estabelecida nos dois últimos anos. E com as projeções pouco otimistas para os segmentos de atuação da empresa. “De fato, os mercados de PCs e de impressão estão em declínio. Mas só quando se olha sob o ângulo tradicional do negócio”, diz Raupp. “Nosso segredo tem sido equilibrar o que temos hoje na prateleira com o que teremos no futuro.”

O Brasil na contramão do mundo

Por Rodrigo Loureiro

Otimismo: para Hélio Rotenberg, CEO da Positivo, o País voltará a representar 2,5% das vendas globais de PCs (Crédito:Guilherme Pupo / AG. ISTOÉ)
Depois de cinco anos em queda, o mercado de computadores voltou a crescer em 2017, segundo dados da consultoria IDC referentes aos três primeiros trimestres do ano passado. Entre janeiro e março, as vendas subiram 5%. O percentual foi repetido entre os meses de abril e junho. Já no terceiro trimestre foram vendidas 1,36 milhão de máquinas, ante 1,04 milhão no mesmo período de 2016, alta de 30%. Os dados do quarto trimestre ainda não foram divulgados. Os números são ainda mais surpreendentes considerando que o Brasil está na contramão do mercado global. No ano passado, mundialmente, o setor registrou o sexto ano consecutivo de vendas negativas.

A retomada está devolvendo o otimismo às empresas brasileiras. “Vamos voltar ao mesmo patamar de 2012”, afirma Hélio Rotenberg, CEO da Positivo, principal fabricante local. Na época, o País detinha uma fatia de 2,5% das vendas de PCs no mundo. Hoje, responde por apenas 1,5%. Ele credita esse movimento do Brasil em relação ao resto do mundo à recuperação da economia. “As vendas despencaram pelo momento econômico que o País atravessou nos últimos anos”, diz Rotenberg. “Quando a economia começa a crescer, como agora, as vendas aumentam.”

A mesma onda de otimismo está contagiando a taiwanesa Acer no País. Focada no mercado de consumo, a empresa diz que, desde o ano passado, está se estruturando para ampliar seus negócios visando o setor corporativo. “Tivemos uma situação econômica muito adversa nos últimos anos”, diz Anderson Kanno, diretor de vendas da companhia no Brasil. “A leve melhora em 2017 já está ajudando o consumidor a comprar um novo produto.”

Os fabricantes de computadores, no entanto, vão ter de se desdobrar para repetir o resultado do ano passado. Segundo a IDC, o bom desempenho em 2017 se deve à necessidade de renovação do parque tecnológico, tanto de empresas quanto de consumidores domésticos. “As pessoa querem baterias que duram o dia todo e mais poder computacional”, afirma o analista Jay Chou, responsável pelo estudo. Esse movimento já estava previsto e dificilmente será repetido em 2018, diz ele. Por isso, apesar de demonstrarem otimismo, as fabricantes não estão apostando todas as fichas na manutenção dessa tendência.

A Positivo, por exemplo, investe no mercado de celulares e, mais recentemente, no segmento de equipamentos médicos. “Nós diversificamos nossos negócios buscando novas oportunidades”, diz Rotenberg. “Mas, para os próximos dez anos, ainda acredito que vai haver um espaço considerável para os computadores”.  Leia mais em istoedinheiro 16/02/2018



16 fevereiro 2018



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