15 dezembro 2017

Mercado teme cenário alternativo.

Os investidores já estavam se preparando para o adiamento da votação da reforma da Previdência, mas o pano de fundo político acabou ampliando dúvidas sobre a possibilidade de uma votação ao longo de 2018. E esse cenário, acompanhado da possibilidade de uma eleição polarizada entre candidatos tidos como extremados, não está nos preços dos ativos financeiros, o que abre espaço para novos ajustes à medida que as perspectivas para a agenda continuem reféns do quadro eleitoral.

Para além da confirmação ontem do adiamento para fevereiro da votação da análise do texto que muda as regras previdenciárias, analistas se debruçaram sobre a falta de articulação política dentro do próprio governo para comunicar ao mercado financeiro a decisão. Ao longo do dia, teorias foram criadas - inclusive de que a ação do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), teria sido arquitetada com o Palácio do Planalto.

No fim da tarde de quarta-feira, Jucá sacudiu os mercados ao dizer que não seria mais possível analisar o texto da reforma ainda neste ano. Ação negociada com o governo ou não, o fato é que entre os investidores ficou a impressão de desarticulação e de sinais contraditórios dentro da própria base governista. A leitura nas mesas de operação é que a dificuldade do governo em aprovar a nova Previdência vai além da necessidade em si de análise do projeto pelos parlamentares. A resistência estaria mais ligada à lógica da reeleição, que poderia ser ameaçada com a aprovação de um projeto à primeira vista impopular.

"Se o argumento dos deputados para não apoiar a Previdência neste ano foi a eleição de 2018, então ano que vem certamente não será mais fácil, já que estaremos às portas da decisão", diz o profissional de uma gestora em São Paulo. Ele considera que a taxa de câmbio deve continuar pressionada, enquanto aumenta o risco de o Banco Central não optar por corte de 0,25 ponto percentual da Selic em fevereiro.

Ontem, o dólar subiu 0,77%, a R$ 3,3357. É o maior patamar para um fechamento desde 23 de junho, quando terminou em R$ 3,3384. O real marcou o terceiro pior desempenho global no dia e na semana divide com a lira turca o posto de maior queda, de 1,22%. Em dezembro, a divisa brasileira tem a segunda maior desvalorização (de 1,95%), ao passo que no acumulado de 2017 cai 2,55%, terceira colocação entre as maiores baixas.

O Ibovespa cedeu 0,67%, aos 72.429 pontos, depois de tocar a mínima intradia nos 71 mil pontos, sob o peso das quedas de papéis sensíveis ao noticiário político. As ações preferenciais da Petrobras cederam 1,12%, e as da Eletrobras caíram 2,80%, com a elétrica sendo destaque de baixas. Na renda fixa, a inclinação entre os juros longos e curtos voltou a bater máxima recorde durante os negócios.

Numa evidência de que a instabilidade de cenário começou a afetar a perspectiva de liquidez, a taxa do cupom cambial de vencimento mais curto saltou 10 pontos-base, para 2,59% ao ano. É o maior patamar do ano e a maior variação de alta em pontos-base desde 2 de junho. O cupom cambial mede a taxa de juros em dólar no Brasil e é tido como um termômetro de liquidez ou de expectativas de oferta de moeda estrangeira. A taxa costuma variar bastante apenas em momentos nos quais o mercado de fato coloca em xeque cenários que afetem as perspectivas de entrada de capital para o país.

Italo Lombardi, estrategista do Crédit Agricole em Nova York, diz que o dólar poderá chegar a R$ 3,50 ao longo do segundo e terceiro trimestres do ano que vem, quando o debate eleitoral ficará mais acalorado. "O que parece que não seria bem digerido é uma indefinição sobre o processo do ex-presidente [Lula] junto com a chance cada vez menor de aprovação da reforma previdenciária", completa.

Para um operador de bolsa, o mercado continua observando oportunidades de compra que existem em momentos de recuo dos ativos e ainda há eventos que podem ter resultados favoráveis para o mercado local, como o julgamento de apelação do ex-presidente Lula no caso em que foi condenado em primeira instância por lavagem de dinheiro.

"O tema Previdência vem travando nosso mercado, mas leves altas e leves quedas não mudam o cenário para frente, que ainda vejo como lateral até a votação. O fator político deve ganhar força com a entrada do ano eleitoral, mas vejo nosso mercado em modo de espera até a votação", afirma Leandro Martins, analista de investimentos da corretora Nova Futura.  - Valor Econômico Jornalista: José de Castro, Juliana Machado e Lucinda Pinto Leia mais em portal.newsnet 15/12/2017

15 dezembro 2017



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