22 outubro 2017

“As startups e as corporações estão aprendendo a fazer negócios juntas”

Para que os programas de corporate venture funcionem, é preciso vencer as diferenças culturais entre os dois tipos de empresa, diz Bruno Stefani, gestor de inovação sênior na Anheuser-Busch InBev

“Hoje existem programas que canibalizam as startups e outros que ajudam os os empreendedores a crescer. Fazemos parte do último grupo.” A afirmação de Maurício Martinez, gerente de pesquisa e desenvolvimento da Porto Seguro, foi feita durante o terceiro dia do Festival de Cultura Empreendedora, que acontece no CO.W. Berrini, em São Paulo. O tema do encontro foram as relações delicadas entre grandes corporações e startups. “Na aceleradora da Porto Seguro, a Oxigênio, a intenção é fazer com que as startups cresçam. Não queremos que eles saiam de lá dizendo: ‘Eu vendi a minha alma para o diabo’”, disse Martinez.

O crescimento dos programas de corporate venture no país ocupou o centro das discussões. Para as startups, uma das principais vantagens desse tipo de iniciativa é o acesso aos clientes e aos canais de distribuição das grandes companhias. Mas o preço pode ser caro: há quem diga que o excesso de regras e burocracia das corporações pode sufocar as startups.
“As empresas que aceleramos não seguem as regras internas da Porto”, disse Martinez. “Não há nenhuma burocracia. Tudo o que pedimos é que fiquem com a gente nos primeiros três meses e que nos deem o direito da primeira recusa. Não faria sentido pedir exclusividade. Esse tipo de exigência mata as startups no berço.”

Para Bruno Stefani, gestor de inovação sênior na Anheuser-Busch InBev, é possível encontrar um equilíbrio entre as necessidades das startups e os desejos das corporações. “Muitas vezes temos novas ideias, mas não há ninguém para executá-las. Daí vou em busca de startups que possam resolver nosso problema. Para eles, essa é uma oportunidade de crescer mais rápido. É um fit perfeito.” Mas, para que a relação seja produtiva, é preciso vencer as diferenças culturais entre as duas organizações. “Os programas de corporate venture ainda estão dando os primeiros passos no Brasil. Estamos aprendendo a fazer negócios juntos. Problemas acontecem, mas o potencial dessa associação é enorme.”

Em busca de startups
Uma das estratégias da Ambev para conquistar startups é promover hackathons, competições em que jovens empreendedores são chamados a resolver um desafio específico. “Os vencedores têm 18 anos, em média. Em um mundo cada vez mais novo, precisamos de pessoas jovens, com ideias novas”, diz Stefani. Entre as empresas aceleradas pela corporação, está a Truck Tracking, que monitora o transporte feito por caminhões, a Zé Delivery, que faz entregas em casa, e a Reveja Breja, um app que mostra os bares preferidos pelos amigos do usuário. “Não damos preferência a nenhum setor. Podem ser iniciativas ligadas ao copo ou ao campo, ou qualquer outra coisa no caminho.”

Na Oxigênio, o número de startups aceleradas já chega a 24. “Estamos tendo sucesso na atração de startups. Elas estão entendendo que é o programa é um bom caminho para potencializar e expandir o negócio”, diz Martinez. Entre os cases de sucesso, ele destaca a Events, que foi responsável por toda a organização hoteleira do Rock in Rio. “Hoje, o valuation da startup é 15 vezes maior do que era quando entraram no programa”, disse. “A empresa é formada por jovens mineiros entre 20 e 30 anos, com uma agilidade, uma força de transformação que você não encontra normalmente numa corporação. Essa é a grande vantagem desse tipo de programa: juntar a disciplina de uma grande organização com a energia que os jovens trazem.”

O que aconteceria se várias corporações se unissem para acelerar hubs de startups? “Eu não teria problema com isso”, diz Martinez. ‘Para nós, seria um prazer fazer projetos em conjunto com o Cubo, que conecta as startups com o banco Itaú, por exemplo. Mas esse tipo de parceria não é comum. É difícil mudar o mindset das empresas, que estão sempre preocupadas com a concorrência, e com resultados a curto prazo. “No longo prazo, faz sentido as empresas se unirem para criar um macro ecossistema, em vez de vários micro ecossistemas”, diz Stefani. É um processo mais difícil, mas vamos chegar lá.” Leia mais em epocanegocios 21/10/2017

22 outubro 2017



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