15 agosto 2017

Bancos começam a abrir sistemas a desenvolvedores

Bancos são, tradicionalmente, fechados e restritivos quando o assunto é tecnologia e acesso aos seus sistemas. Mas uma mudança está em curso. Para cativar clientes e fazer frente ao avanço das startups de serviços financeiros - as fintechs -, as instituições brasileiras estão dando os primeiros passos no processo de "abrir" seus sistemas a outras empresas e desenvolvedores.

Original e Banco do Brasil (BB) já abraçaram o modelo. Santander, Bradesco e Itaú têm trabalhado internamente, mas ainda avaliam a iniciativa.

No modelo de "Open Banking", terceiros podem desenvolver novos aplicativos e serviços para atender os clientes de uma instituição desde que cumpram uma série de regras definidas por ela dentro de suas interfaces de programação abertas - ou APIs, no jargão do mercado. Essa abordagem é o dia a dia de empresas de tecnologia como Facebook, Google e Microsoft e o que, em grande medida, dá a eles a capacidade de estar sempre "antenados" com os últimos anseios e tendências. Afinal, não dá pra fazer tudo sozinho.

O assunto ganhou mais visibilidade depois que a União Europeia impôs aos bancos a adoção do modelo a partir de 2018. "As APIs não são mais uma tendência. São uma realidade que veio pra ficar", disse Marco Mastroeni, diretor de negócios digitais do Banco do Brasil. O banco lançou suas APIs em junho durante o Ciab, a feira de tecnologia financeira organizada pela Febraban. Desde então, mais de mil startups mostraram interesse em desenvolver algum tipo de conexão aos seus sistemas.

As propostas estão sendo avaliadas por uma equipe de 20 pessoas da área de negócios digitais e de tecnologia do BB. Atualmente, 12 APIs estão abertas em três áreas: informações de conta e cartão de crédito, débito em conta e pagamentos. Mastroeni não revela o valor investido na iniciativa, nem o retorno esperado. "Não faço a menor ideia do potencial de negócios que isso pode gerar. A ideia é investir rápido, investir pequeno. A velocidade é muito importante", disse o executivo.

Para colocar o discurso em prática, o BB colocou de pé, em cinco meses, uma integração com a startup Conta Azul, dona de um sistema de gestão para micro e pequenas empresas acessado pela internet. Pelo acordo, os clientes em comum das duas empresas poderão consultar o extrato de suas contas diretamente no sistema de gestão. Isso reduz o esforço manual de manter as informações atualizadas e ajuda a organizar a administração do negócio, segundo Vinicius Roveda, fundador e presidente da Conta Azul. Com 70 clientes testando a funcionalidade no momento, Roveda e Mastroeni já fazem planos para próximos passos.

Um deles seria a contratação de capital de giro dentro do Conta Azul, cruzando dados de notas fiscais emitidas com a movimentação financeira para oferecer melhores condição de taxa de juros. "O princípio é que a informação é do cliente, não do banco. Na medida em que ele permite que as informações sejam compartilhadas com outros serviços, porque não fazer isso de forma segura?", avaliou Mastroeni.

Segundo ele, há uma discussão na Febraban sobre facilitar esse intercâmbio. Isso poderia ocorrer pela criação de um banco de dados compartilhado entre os bancos, ou usando a tecnologia de registro de informações digitais blockchain.

"O Open Banking vai obrigar os bancos a tratar melhor seus clientes e parceiros", avaliou Guga Stocco, consultor e ex-diretor de estratégia do Original. De acordo com ele, é preciso, no entanto, manter uma estratégia coerente, com investimentos constantes para oferecer novidades sempre. "Mantendo sempre atualizado, e atraindo mais parceiros, ele pode ampliar a atração de novos clientes sem investir em marketing. Os parceiros é que vão fazer esse trabalho", completou.Valor Econômico leia mais em portal.newsnet 15/08/2017

15 agosto 2017



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