08 agosto 2016

Ao menos sete grupos querem disputar aeroportos federais

Ao menos sete grupos nacionais e estrangeiros manifestam interesse firme nos quatro aeroportos que o governo pretende conceder à iniciativa privada em dezembro. A li sta inclui pesos-pesados do setor que ainda não haviam entrado nas licitações brasileiras, como a francesa Vinci e a alemã Avialliance (ex Hochtief).

Mas o provável arranjo dos consórcios difere, até agora, do desenho montado nos últimos leilões, em que grandes empreiteiras locais ancoravam diretamente ou via concessionárias das quais são acionistas uma dobradinha com operadoras internacionais de aeroportos. Agora, apurou o Valor, deve haver bem mais vôos solos.

A Vinci, que tem ganhado terreno em um projeto de expansão no exterior, desponta como uma das mais interessadas e já comunicou a auxiliares do presidente interino Michel Temer sua disposição em participar agressivamente da disputa. Além de administrar terminais de médio porte no interior da França, ela sagrou-se vitoriosa recentemente nos processos de privatização dos aeroportos de Portugal inclusive Lisboa e de Santiago, no Chile. Segundo fontes do mercado, a Vinci entraria sozinha no certame, que engloba os aeroportos de Salvador (BA), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC).

Lastreada em sua experiência internacional ela opera terminais como Quito (Equador) e Juan Santamaría (Costa Rica) , a brasileira CCR se prepara para apresentar um lance na disputa pelos dois ativos na região Nordeste. A empresa está de olho principalmente em Salvador, que tem sinergia com sua outra concessão, o Metrô Bahia. Mas acredita que Fortaleza também tem boas perspectivas de crescimento, tornando-se um "hub", pela proximidade com
Estados Unidos e Europa.

A CCR se aliou à Flughafen Zurich, que opera um dos terminais europeus mais bem avaliados, para administrar o aeroporto de Confins (MG). Agora, existe boa possibilidade de separação entre as duas no próximo leilão.

Executivos da Zurich estiveram em Brasília, no mês passado, para comunicar às autoridades que querem ampliar a carteira de ativos no país. Cada uma, porém, está disposta a fazer seu próprio lance.

Dona de aeroportos como Atenas e Budapeste, o grupo alemão Avialliance tem uma parceria no Brasil com o fundo Pátria Investimentos, que contratou Alysson Paolinelli, ex-presidente da Inframérica, concessionária de Brasília e de Natal, para estudar sua participação no próximo leilão.

Os outros três grupos aeroportuários interessados são o alemão Fraport, que administra o aeroporto de Frankfurt; o argentino Corporación América, que controla a Inframérica; e o espanhol Ferrovial, que é controlador do aeroporto de Heathrow (Londres).

O governo interino trabalha com a perspectiva de publicar os editais definitivos de concessão em setembro, logo após a votação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, e realizar o certame em dezembro.

Diferentemente das rodadas anteriores, quando havia diferença de 30 a 45 dias entre essas duas etapas, o prazo agora será de 90 dias. A dilatação é vista como fundamental para permitir aos investidores estudar mais detidamente os ativos oferecidos.

Também empreiteiras brasileiras de médio porte estudam entrar no negócio, interessadas em avançar como empreendedoras. O Valor apurou que estão nesse nicho Construcap e Racional, por exemplo, que precisariam se associar a parceiros com experiência. O grupo Barbosa Mello, com atuação em concessões, também tem interesse. Os requisitos mínimos de experiência do operador serão de 9 milhões de passageiros em pelo menos um dos últimos cinco anos para Salvador e Porto Alegre, 7 milhões para Fortaleza e 4 milhões para Florianópolis.

Do outro lado, os operadores estrangeiros que sondam parceiros nacionais procuram empresas sem envolvimento em escândalos de corrupção, nos quais foram pegas as maiores empreiteiras do país que disputaram rodadas anteriores. Uma operadora de fora está em tratativas com a Racional.

Desta vez, a Fraport não repetirá a parceria feita com a concessionária de infraestrutura Ecorodovias. Ambas formaram consórcio no passado para brigar por Guarulhos, Viracopos e Brasília. Mas agora o italiano grupo Gavio, um do cocontroladores da Ecorodovias, quer que a companhia se concentre no negócio-mãe: as concessões rodoviárias. Uma possível parceria entre a construtora paranaense CR Almeida, a outra sócia da Ecorodovias, e a Fraport é cogitada.

Em ritmo menos adiantado, outras empresas pesam riscos e oportunidades de entrar. Investidores chineses já procuraram o governo e disseram ter interesse especificamente em Fortaleza. Os aeroportos são considerados uma das mais interessantes concessões de infraestrutura por serem ativos raros e para os quais há demanda reprimida, com espaço para explorar receitas comerciais, como lojas e hotéis.

Grupos grandes como Mitsui e Marubeni, por exemplo, estudam participar da licitação mas, como demais estrangeiros, não se sentem confortáveis com o risco da demanda ser do empreendedor, o que tende a afastar interessados mais conservadores. Tradicionalmente, há transferência do risco de demanda para o concessionário onde a economia é menos volátil o que não é o caso do Brasil. Aqui, essa regra produz o que especialistas chamam de seleção adversa, que é a atração de empresas sem relação com o negócio, como foi no Brasil nas rodadas recentes. "Que construtora entende de operar aeroporto?", questiona uma fonte a par do processo.

"A moral da história é: se o mecanismo de transferir o risco de demanda não funciona no Brasil, é preciso trocar o mecanismo", diz Bruno Werneck, sócio da área de infraestrutura do escritório Mattos Filho. O período de audiência pública do edital já terminou. A Anac, agência reguladora do setor, recebeu cerca de 1.500 contribuições.

Os valores mínimos de outorga somam R$ 4,1 bilhões R$ 729 milhões para o de Porto Alegre; R$ 1,49 bilhão para Salvador; R$ 1,56 bilhão para Fortaleza; e R$ 329 milhões para Florianópolis. Os investimentos são estimados em R$ 6 bilhões. O prazo de exploração será de 30 anos menos Porto Alegre, com 25 anos. Por Daniel Rittner e Fernanda Pires Fonte: Valor Econômico Leia mais em sinicon 08/08/16



08 agosto 2016



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