01 junho 2016

Capital estrangeiro quer grandes hospitais

Nas semanas seguintes à aprovação de uma lei permitindo a entrada de capital estrangeiro em hospitais brasileiros, em janeiro de 2015, uma revoada de investidores desembarcou no país.

O americano Carlyle e o Fundo Soberano de ... Leia mais em Valor Econômico 01/06/2016
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Capital estrangeiro quer grandes hospitais

Nas semanas seguintes à aprovação de uma lei permitindo a entrada de capital estrangeiro em hospitais brasileiros, em janeiro de 2015, uma revoada de investidores desembarcou no país.

O americano Carlyle e o Fundo Soberano de Cingapura (GIC) fizeram aportes de quase R$ 5 bilhões na Rede D’Or e a UnitedHealth comprou o Hospital Samaritano, de São Paulo, por R$ 1,3 bilhão. As cifras generosas davam indícios de que a consolidação no setor seria intensa.

No entanto, esse movimento não ocorreu até o momento. Além da crise econômica e política que se instaurou no país, os investidores estrangeiros estão se deparando com entraves estruturais no setor hospitalar que têm barrado a conclusão de novas transações.

Entre esses empecilhos estão: carência de hospitais de grande porte, dependência das Unimeds como fonte pagadora, principalmente fora de São Paulo, atendimento ao Sistema Único de Saúde (SUS), gestão pouco profissionalizada e indisposição dos fundadores para abrir mão do controle do hospital.

O maior entrave é o tamanho dos hospitais brasileiros, que têm em média 70 leitos. São considerados rentáveis aqueles com pelo menos 150 leitos, uma vez que os custos fixos de um hospital são elevados, segundo dados da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp).

Os investidores estrangeiros estão em busca de ativos com mil leitos, mas há pouquíssimas opções e, ainda assim, são hospitais que já têm sócios investidores como a Rede D’Or ou pertencem a operadoras de planos de saúde que usam seus hospitais para atender basicamente seus clientes.

Esse é o caso da Amil, dona de 32 hospitais, e da NotreDame Intermédica, que tem 854 leitos e foi vendida há dois anos ao fundo americano Bain Capital. A operadora Hapvida, que ainda não tem investidor, deve chegar ao fim deste ano com 3 mil leitos, mas são voltados aos próprios clientes.

“A Rede D’Or e o Edson Bueno começaram a consolidação antes e compraram os melhores ativos”, diz Roberto Schahin, sócio da MTS Health Partners, banco de investimento americano especializado em saúde. Bueno é controlador de uma rede com seis hospitais, que juntos têm 1,5 mil leitos, com marcas reconhecidas na comunidade médica como Santa Paula e Nove de Julho, ambos em São Paulo. Já a Rede D’Or é a maior do setor no Brasil, com faturamento de R$ 6,5 bilhões e mais de 30 hospitais, como o paulista São Luiz, o Santa Luzia, em Brasília, e as unidades D’Or, no Rio.

Segundo Camila Crispim Bastos, “head” do setor de saúde do Banco Modal, entre os investidores estrangeiros que analisaram ativos brasileiros neste último ano, entre 45% a 50% não fecharam negócio por causa do tamanho do hospital. Nos Estados Unidos, o número de leitos por hospital é em média três vezes maior em relação ao Brasil, segundo Anahp e BTG.

Na falta de hospitais de grande porte, o movimento mais comum seria de aquisições de ativos menores para formar grupos, como já ocorreu em outros setores da saúde como laboratórios de medicina diagnóstica e operadoras de convênios médico e dental. “Mas a lógica não é tão simples no caso dos hospitais devido à complexidade e risco iminentes ao negócio”, diz a sócia do banco Modal, complementando que o valor do cheque não tem sido o maior problema para os investidores estrangeiros.

Há no mercado, 3,8 mil hospitais privados com ou sem fins lucrativos que juntos têm um faturamento de cerca de R$ 50 bilhões, de acordo com levamento realizado pela MTS Health Partners. Deste total, quase R$ 23 bilhões são provenientes dos 72 maiores grupos hospitalares do país.

O setor afirma que sua rentabilidade está sob pressão. “Nos últimos três anos, a variação dos custos médicos cresceu mais do que a receita”, disse Francisco Balestrin, presidente da Anahp.

Outro ponto que vem causando insatisfação entre os estrangeiros é a dependência das Unimeds que, em muitas regiões do país, são a única fonte pagadora para os hospitais, principalmente, fora da cidade de São Paulo e nos Estados do Sul. Alguns investidores têm se mostrado receosos inclusive para construir um novo hospital nessas praças.

Mas, em meio às dificuldades de fechar grandes transações, os hospitais filantrópicos privados estão se destacando. No período de um ano, o Samaritano, de São Paulo, foi comprado pela UnitedHealth (dona da Amil), e o Bandeirantes mudou sua razão social para fins lucrativos.

Havia uma expectativa de que os filantrópicos começassem o processo da consolidação mais tarde, após aqueles com fins lucrativos. “Os filantrópicos estão nos procurando para ver os modelos viáveis. Há interesse deles em expandir com capital estrangeiro. Mas tenho dito que há outros formatos e não só mudar a razão jurídica”, destaca Elysangela de Oliveira Rabelo, advogada e sócia da Tozzini Freire, escritório de advocacia que tem uma área específica para atender o setor. Elysangela exemplifica como opções aos filantrópicos a criação de subsidiárias, licença de marcas ou gestão de hospitais.

O sócio da MTS Health levanta outro empecilho ainda pouco discutido: a grande parcela de atendimentos a pacientes da rede pública (SUS) por alguns hospitais filantrópicos particulares. É o caso da Beneficência Portuguesa, de São Paulo. “Há uma carência enorme de leitos SUS no país.

Como eu vou chegar numa prefeitura e informar que o hospital foi comprado e aqueles leitos passarão a ser privados? Não dá para fazer isso”, explica Schahin.

Os sócios do Modal, da MTS Health e da Tozzini Freire dizem que a falta de governança corporativa no setor é outro grande problema. É comum o fundador do hospital acumular as funções de presidente, médico responsável e ainda ter consultório dentro do próprio hospital. Outra característica é que muitos hospitais de menor porte têm vários sócios médicos que estão em busca de aportes financeiros, mas não querem abrir do controle. “Para o investidor levar adiante a consolidação ele quer comprar 100%”, diz Camila. Por Roberta Massa B. Pereira | Fonte: Valor Econômico – 01.06.2016 Leia mais em gehosp 01/06/2016

01 junho 2016



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