20 junho 2016

Brasil está barato para estrangeiros

Nem mesmo as crises política e econômica, com perda do grau de investimento do país, desemprego em alta e investimentos em baixa, tiram o apetite dos investidores em negociar participações relevantes ou parcerias para entrar ou aumentar market share no mercado segurador brasileiro. "Seguro é um segmento muito interessante no Brasil diante da baixa penetração que ainda tem no Produto Interno Bruto (PIB), de 6%, quando o ideal é chegar a 10%. Isso faz com que muita gente ainda queira entrar no mercado local, mesmo com a situação de crise atual", diz David Bunce, sócio da KPMG.

O setor tem registrado, historicamente, entre cinco e dez transações por ano. Algumas resultam de aquisições iniciadas no exterior, com impacto no Brasil, como na compra da Chubb pela ACE, por US$ 28 bilhões, no ano passado, a maior negociação mundial no setor. O acordo colocou novo desafio para a ACE, que finalizava a integração da compra da carteira de grandes riscos do Itaú. Depois de uma acirrada disputa com AXA e HDI, a ACE acabou levando por R$ 1,5 bilhão, um múltiplo de quatro vezes o patrimônio líquido.

Outras negociações também ficaram num patamar considerado caro pelos investidores, de 3,5 vezes o PL, como o grupo Travelers que comprou a J. Malucelli, a francesa Axa que adquiriu a carteira de grandes riscos da SulAmérica, bem como o grande otimismo do governo brasileiro com os IPOs do IRB Brasil Re e da Caixa Seguridade, suspensos pela deteriorização das condições do mercado com a perda do grau de investimento do Brasil no ano passado, e que agora voltam a ser prioridade no governo interino de Michel Temer.

"2015 foi o ano ativo para o setor de seguros no mundo. Mas dificilmente 2016 conseguirá superar as negociações realizadas no ano passado", aposta Elias Zoghbi, consultor da Deloitte. A mais recente, concretizada em maio, foi a venda da carteira de automóveis da Chubb para a Porto Seguro e a parceria entre Sabemi e Zurich para a venda de seguros pessoais para servidores públicos. "Entendemos que para continuar crescendo nos próximos anos, seria importante buscar uma parceria estratégica com um "player global" de seguros de pessoas", diz Antonio Carlos Pedrotti, diretor executivo da Sabemi.

Zoghbi acredita que há espaço para novos negócios. Pesquisa realizada pela Deloitte com 80 executivos de vários mercados no Brasil que efetuaram operações, incluindo seguradoras, 76% deles afirmaram que as negociações buscavam acesso a novos mercados, 39% a construção de novas capacidades de negócios e 36% a economia de escala.

A expectativa é que as negociações devam se situar no patamar internacional de 2,5 vezes o PL. Para ajudar, o Brasil está mais barato para os estrangeiros. "Porém, não vemos muitas ofertas em seguros, uma vez que os grandes bancos já se reposicionaram", diz Bunce. Algumas negociações ainda estão no radar, como a venda da carteira de grandes da Bradesco Seguros, sendo a Swiss Re a mais cotada para vencer a concorrência, e a carteira de vida do Itaú, sendo a Chubb citada como a favorita na disputa.

Segundo Bunce, negociações em resseguro também podem acontecer. "Muita gente entrou no Brasil e algumas companhias não têm volume suficiente para uma rentabilidade sustentável, o que alimenta a tendência de fusões e aquisições", diz. Entre os negócios comentados nos bastidores, além da venda de parte ou IPO do IRB, está o interesse do fundo de private equity Vince Partners em vender a participação no grupo Austral. Mesma estratégia do grupo Plural com a Terra Brasis.

Jayme Garfinkel, vice-presidente da Confederação das Seguradoras, a CNseg, não vê o setor como um alvo para negociações. "As negociações que ocorreram vieram de oportunidades de negócios, com algumas companhias deixando de operar em um segmento. Já em saúde vemos uma tendência de fusões e aquisições por ter um grande número de operadoras e um baixo nivel de retorno sobre o patrimônio, e isso deve provocar questionamentos se vale a pena ficar no ramo e em como melhorar o resultado", avalia. Somente o grupo Notredame Intermédica comprou no ano passado o grupo Santamália Saúde, um dos principais da região do ABCD paulista, e o Hospital Family, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo.

No caso dos corretores, o movimento foi grande até 2014. A negociação mais importante mundialmente foi a fusão da Willis com a Towers Watson em 2015. "Já começamos a perceber os benefícios da fusão aqui no Brasil e nos demais países da América Latina. Unimos forças e contamos com a expertise de profissionais altamente qualificados, que podem exercer seu papel consultivo, ancorados por um leque extremamente abrangente de produtos e serviços para nossos clientes", comenta Luis Maurette, head of Latin America da Willis Towers Watson.   Autor: Denise Bueno Fonte: Valor Econômico  Leia mais em tudofarma 20/06/2016

20 junho 2016



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