11 abril 2016

Figueiredo vê bolsa e real em alta sob impeachment

O evento impeachment tem potencial para provocar ainda um importante ajuste no mercado financeiro levando-se em conta os preços atuais, na visão do ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e atual sócio da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo. Para ele, em um cenário de mudança de governo, o Ibovespa pode avançar para perto dos 60 mil pontos, dos atuais 50 mil pontos, e o dólar recuar para um nível próximo a R$ 3,00. Já o contrato de juro futuro para 2021, medida da percepção de risco do investidor para o médio prazo, poderia ceder para perto de 12%. Atualmente, esse contrato tem taxa de 14,1%.

"O mercado parte do senso comum de que um novo governo terá base de sustentação mais sólida e uma agenda focada no fiscal, o que pode melhorar a confiança e também os preços dos ativos', explica. "Hoje, vivemos um ciclo vicioso, em que as pessoas acreditam que o futuro será pior do que o presente e, assim, não investem, não contratam, não faturam. É essa dinâmica que uma mudança de governo pode quebrar."

Já um cenário de vitória do governo Dilma deve contemplar a volta dos preços dos ativos para os níveis observados antes do rali de março, sustentando pelo ressurgimento da aposta no impeachment. Isso significaria ver o dólar acima dos R$ 4,00, o Ibovespa mais perto dos 37 mil pontos e o contrato de DI para janeiro de 2021 na casa dos 16%. Reação esperada para um cenário em que o governo Dilma assuma um discurso de mais responsabilidade fiscal, sem ações heterodoxas para estimular a economia.

"Deve ser um movimento discreto num primeiro momento, mas que pode se aprofundar se houver sinais de populismo", afirma. "Nessa situação, cada pequeno erro será levado em consideração porque o governo Dilma não contaria com o benefício da dúvida".

Os cenários traçados pelo gestor consideram o processo de repatriação de recursos depositados no exterior, que pode trazer um fluxo importante de dólares e, assim, ajudar a valorizar o câmbio brasileiro. Esse movimento deve ocorrer em qualquer cenário político, mas tende a ser mais intenso caso haja uma mudança de governo.

Além disso, Figueiredo diz que o investidor estrangeiro, que sustentou a forte alta do Ibovespa em março, de 16,9%, está atento ao melhor momento para ingressar no país. E, nesse sentido, o episódio recente da Argentina, que viveu uma transição de governo e abriu espaço para valorização dos ativos, serve de alerta para os que têm intenção em aplicar. "Quem comprou antes da eleição do [Maurício] Macri [presidente da Argentina] ganhou muito mais".

Uma nova desvalorização do câmbio não deve provocar reação por parte do Banco Central, que tem sinalizado com manutenção dos juros por algum período, com chances de um corte mais à frente. "A alta do dólar pode pressionar um pouco a inflação neste ano, mas dificilmente ela continuará em alta", afirma. "Em um ambiente de estresse, o melhor é ficar o mais quieto possível."

Figueiredo acredita que, qualquer que seja a decisão do Congresso sobre o processo de impeachment, deve haver a apresentação de uma agenda fiscal consistente, que passe por redução de despesas, com medidas que ao menos interrompam a trajetória de deterioração da relação dívida/PIB. A questão é que, no caso de permanência de Dilma no governo, esse discurso será recebido com muito ceticismo.

"Eu acho mais provável que o governo Dilma, com ou sem a presença de Lula, opte por uma política de arrumação da casa. Mas, ainda assim, o grau de ceticismo será enorme", afirma. "O risco é que a opção da presidente seja pelo populismo desenfreado. Mas acho que isso não deve ocorrer porque o Congresso não permitiria, porque está claro que qualquer ação nessa direção não será capaz de melhorar em nada o desempenho do PIB e, ao contrário, nos levará mais rapidamente para o precipício", afirma.

O fato de o governo discutir hoje medidas que apontem na direção de uma política mais alinhada com o primeiro governo de Dilma, como reforço do crédito, corte do preço dos combustíveis neste momento ou a volta da emissão de títulos públicos pelo Banco Central, não deve ser visto como a caminho a ser seguido após o processo de impeachment, diz. Isso porque, hoje, o esforço do governo está voltado para sobreviver ao processo. "Veja que a carta aos brasileiros 2 é antagônica a tudo o que Lula falava há um mês", diz.

Para Figueiredo, nem mesmo a escolha de um "grande nome" para o Ministério da Fazenda seria capaz de trazer a confiança do atual governo de volta. "Nós já tivemos um grande nome, que foi o Joaquim Levy", diz. O que Dilma teria de fazer, vencido o impeachment, seria criar eventos positivos na via fiscal. Mas, para ele, acreditar que o governo Dilma conseguirá dar a volta por cima "é muito otimismo". "Cada pequeno erro será levado em consideração, porque o mercado não dará o benefício da dúvida a este governo", afirma.

A mesma fórmula, aplicada por um novo governo num cenário de impeachment, afirma, pode melhorar as condições econômicas porque traria a sensação aos agentes econômicos de que "o futuro será melhor que o presente." Hoje, perder 20% de faturamento é algo generalizado", diz. "Mas quando o barco muda de direção, a inércia é favorável", diz. "Há muita gente com bons planos e boas ideias, que podem ser desengavetados assim que a visão de futuro melhorar."

Isso, observa, desde que o discurso adotado imediatamente após a posse do próximo governo aponte na direção de um ajuste fiscal de corte de despesas. "O país viveu os últimos anos evitando resolver os problemas fiscais da maneira correta. Fomos colocando as coisas debaixo do tapete, porque a arrecadação crescia", diz. Agora, com o déficit fiscal crônico, a falência de quase 10 Estados, a Petrobras precisando de uma capitalização urgente e as despesas obrigatórias crescendo ano a ano, somente atacando problemas dolorosos é que a confiança será retomada. "O próximo governo tem que assumir anunciando uma equipe forte mas, sobretudo, com uma agenda forte, voltada para o fiscal." Valor Econômico - Leia mais em abinee 11/04/2016

11 abril 2016



0 comentários: