09 outubro 2015

Grupos se preparam para consolidação

A consolidação da indústria de celulose e papel no Brasil é de grande interesse dos maiores players dessa indústria. Por isso, e bancos de investimento estão atentos a essa tendência, buscando montar operações. Para não ser engolida, a Eldorado Brasil Celulose, da família Batista Sobrinho, que também é dona do JBS, há algum tempo começou a se mexer. Seus movimentos, porém, esbarram nas pretensões dos grupos tradicionais nesse setor. As grandes companhias do setor - Fibria e Suzano - querem liderar a onda, e não ser consolidadas.

Para um alto executivo do setor, o retorno do tema à mídia agora parece ter sido motivado justamente por alguma instituição financeira interessada em intermediar um negócio bilionário na indústria - que deve sair em algum momento, porém sem uma previsão de data à vista.

O combustível para as especulações foi adicionado, desta vez, pela revista "Exame", que na quarta-feira informou que a J&F Investimentos, holding da família Batista que controla a Eldorado, estava em negociações com a Votorantim Industrial (VID) para comprar uma fatia da concorrente Fibria. Já teria até contratado o Credit Suisse para assessorá-la na operação. A J&F negou ontem pela manhã e a VID não comentou o assunto. Mas ninguém ousa afirmar categoricamente que não há interesse dos grupos envolvidos em uma potencial combinação de ativos.

Neste momento, Fibria e Eldorado, que seria incorporada pela fabricante dos Ermírio de Moraes e BNDESPar, em troca da entrada da família Batista no capital da companhia, estão avançando cada uma com um projeto de expansão em Três Lagoas (MS). A Fibria vai investir R$ 7,7 bilhões para instalar a segunda linha de produção e já teria garantido a contratação de recursos do BNDES, tradicional financiador e acionista do setor, apurou o Valor.

A Eldorado, por sua vez, ainda está trabalhando na estrutura do financiamento para o projeto de R$ 8 bilhões, com possível chegada de um novo sócio, mas estaria encontrando dificuldades para chegar ao valor pretendido. Como parte desses esforços, a J&F teria contratado justamente o Credit Suisse, no início deste ano, para levantar até US$ 5 bilhões com fundos soberanos árabes e asiáticos, que serão destinados a uma operação de "capitalização da Eldorado, abertura de uma rede de varejo de carnes e novas aquisições".

Até pouco tempo atrás, havia grande expectativa de que os planos de crescimento pudessem ser precedidos de uma combinação de ativos. Desde 2010, quando houve uma tentativa de conversa entre a Votorantim, que controla a Fibria junto com BNDESPar, e a família Batista, circulam rumores sobre supostas tratativas entre os acionistas.

Em março deste ano, um novo modelo potencial de consolidação surgiu no mercado. Em relatório, o Bank of America Merrill Lynch escreveu que os produtores nacionais de celulose estavam chegando mais perto de tomar uma decisão sobre potenciais movimentos de consolidação e uma combinação de ativos da Fibria, maior do mundo de fibra de eucalipto, e da Suzano, vice-líder, nesse segmento, parecia ser a mais "lógica".

Segundo os analistas Thiago Lofiego, Karel Luketic e Betina Roxo, essa combinação criaria valor significativo para os acionistas, geraria sinergias, melhoraria a governança e criaria uma grande líder de mercado. Pelos cálculos do BofA, as sinergias poderiam somar de R$ 7 bilhões a R$ 9 bilhões.
Peça fundamental para que essa operação fosse adiante, conforme os analistas, seria garantir que os acionistas controladores tivessem participação final semelhante na nova empresa.

Em novo relatório ontem, os mesmos analistas lembraram que a compra da Fibria pela J&F poderia custar caro aos Batista, apesar das sinergias potenciais de R$ 4,3 bilhões. Para o BofA, é improvável que a VID queira vender apenas uma fatia da Fibria - a tendência seria a de vender toda a sua participação, o que embutiria prêmio de controle.

Além disso, tanto o BNDES quanto a VID têm direitos de tag along, que exercidos disparariam uma oferta pública de aquisição (OPA) pelas ações em circulação da Fibria. O valor de mercado da empresa é de R$ 30 bilhões.

Conforme os analistas, no caso de uma fusão, não está clara qual seria a solução para o controle da "nova" companhia. Soma-se a isso o fato de a Fibria ter de incorporar o pesado (e caro) endividamento da Eldorado, o que poderia comprometer seus indicadores de alavancagem. A empresa de celulose dos Batista ainda não gerou lucro da atividade desde que entrou em operação em dezembro de 2013.

Segundo fontes próximas da Votorantim, a notícia envolvendo a J&F/Eldorado não faz sentido. E que não há desejo de sair desse negócio, no qual entrou desde o fim dos anos 80 e promoveu processos de consolidação no setor (incorporou a Aracruz). Ao mesmo tempo, lembram que não tem necessidade de vender ativos para reduzir endividamento.

A desvalorização do real transformou os produtores de celulose - praticamente toda exportada - em máquinas de geração de caixa, o que dá fôlego financeiro para eventuais movimentos de compra ou combinação de ativos.

No acordo de acionistas com BNDESPar, renovado no ano passado por mais cinco anos, tem a garantia do controle da Fibria. Além disso, há regras fixadas de saída para os dois sócios, as quais envolvem uma série de proteções em caso de decisões unilaterais. Valor Economico Leia mais emdatamark 09/10/2015


09 outubro 2015



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