11 setembro 2015

Chinesa Beijing e japonesa Mitsui ficam na disputa pela Gaspetro

Com a venda da BR Distribuidora adiada indefinidamente, a Petrobras vai se dedicar à venda da Gaspetro. Apesar de nove empresas terem manifestado, sozinhas ou por meio de associações, interesse na subsidiária que detém participações em quase todas as distribuidoras de gás canalizado do país, ficaram no páreo duas asiáticas: a chinesa Beijing Gas e a japonesa Mitsui. Esta última já é sócia da Petrobras em oito distribuidoras de gás no país..

A lista inicial de interessados pela Gaspetro incluía alguns gigantes como a franco-belga Engie (antiga GDF-Suez), a Gas Natural Fenosa (que controla a CEG Rio e a Gas Natural SPS), a americana Washington Gas, a Cosan (controladora da Comgás), a também japonesa Marubeni (que ficou em terceiro lugar na avaliação da Petrobras), além da Mitsui e da Beijing Gas. Como sócios investidores interessados em entrar como financiadores - e que desistiram sem avançar em propostas - estavam o Gávea Investimentos e o Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB), que detém ativos de 268 bilhões de dólares canadenses.

Segundo fontes ouvidas pelo Valor, alguns interessados pela Gaspetro buscavam mais poder na empresa do que a Petrobras está disposta a conceder a um minoritário. Algumas das interessadas reivindicaram nomear o ocupante da diretoria técnica-comercial - que é indicação da Petrobras em todas as distribuidoras - o que a estatal não aceitou. No atual modelo tripartite das empresas controladas pela Gaspetro, os Estados nomeiam os presidentes das empresas, a estatal é a responsável pela área técnica-comercial e os sócios privados pela administrativa-financeira. Outras empresas não avançaram nas negociações porque queriam o controle da Gaspetro e não uma participação de 49% como a Petrobras está oferecendo.

O modelo de venda, no qual a Petrobras quer se manter na gestão do negócio, não atraiu os grandes operadores

O JP Morgan e a Brasil Plural estimam em US$ 2,6 bilhões o valor contábil da área de distribuição da Gaspetro, com base no exercício de 2014. Se a Petrobras optar por vender 49% da subsidiária, poderia arrecadar US$ 1,3 bilhão, mas o Ebitda da estatal seria reduzido em até US$ 1 bilhão por ano, segundo o JP Morgan.

O plano de venda de ativos da Petrobras - de US$ 58 bilhões até 2019 - é considerado uma oportunidade para atrair investimentos para o setor em um momento em que a estatal perdeu fôlego e foca na exploração e produção do pré-sal, ao mesmo tempo em que a dívida aumenta com a desvalorização do real.

Mas o modelo de venda, no qual a Petrobras quer se manter na gestão do negócio, não atraiu os grandes operadores mundiais acostumados a movimentar volumes gigantescos de gás, como a Gas Natural Fenosa e a Engie.

O assunto foi levado ao Ministério da Fazenda, que delegou ao secretário de Acompanhamento Econômico (SEAE), Paulo Correa, a missão de acompanhar a venda de ativos da Petrobras junto com o Ministério de Minas e Energia. Correa é especialista em regulação e política da concorrência e, quando esteve no Banco Mundial, estudou formas de fortalecer investimentos em infraestrutura no país.

O monopólio da Petrobras no gás natural é absoluto. A estatal é de longe a maior produtora de gás - salvo exceções como a Parnaíba Gás no Maranhão e a Queiroz Galvão com o campo de Manati -, a única transportadora e participa da distribuição. Também é a única supridora dos combustíveis substitutos.

Não são conhecidos os preços que a Petrobras cobra pelo gás usado para gerar energia nas suas próprias termelétricas e nem o preço de transferência do insumo para as fábricas de fertilizantes (Fafens). O documento em que a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) denuncia a Petrobras por conduta anticompetitiva e exercício abusivo de posição dominante, entre outras acusações, sintetiza o incômodo com a estatal no setor.

Há representantes no setor que veem o momento de fraqueza da estatal como ideal para testar novos modelos no mercado brasileiro, desta vez com investidores privados. A Prumo, que controla o empreendimento construído pelo empresário Eike Batista no Porto do Açu, quer transformar parte da gigantesca área do porto em um "hub" para armazenamento de petróleo e transferência de gás natural liquefeito (GNL).

Por meio da Rumo, o grupo Cosan planeja construir um gasoduto para escoamento até São Paulo do gás natural produzido no pré-sal da Bacia de Santos, um projeto conhecido como Rota 4. O grupo gaúcho Bolognesi é até agora o maior investidor privado em terminais de regaseificação de GNL no país, em projetos ancorados em termelétricas.

Mais agentes dispostos a investir em infraestrutura também podem acabar por reduzir a dependência do país pelo gás da Bolívia. O contrato binacional que prevê a venda de 30 milhões de metros cúbicos de gás por dia para o Brasil vence em 2019.

É comentado no mercado que a Bolívia não terá condições de renovar o contrato nos volumes atuais pois não investiu na exploração e desenvolvimento da produção de novos campos de gás. Segundo uma fonte, os bolivianos querem que a Petrobras adiante US$ 5 bilhões para renová-lo. Na atual situação financeira da estatal, é improvável que o investimento seja feito. (Colaborou André Ramalho) Fonte: Valor Econômico/Claudia Schüffner | Do Rio Leia mais em portosnavios 10/09/2015


11 setembro 2015



0 comentários: