26 junho 2015

Empresas que apostam em fusões e aquisições dão mais retorno a acionistas

Levantamento que acompanhou 25 mil companhias e 265 mil transações, por 20 anos, mostra que estratégia contraria a noção de que operações do gênero trazem prejuízo a longo prazo

Companhias que recorrem constantemente a fusões e aquisições para crescer dão maior retorno quando comparadas às empresas que adotam pontualmente esta estratégia. A conclusão — parte de um estudo em que foram analisadas 265 mil transações, de 25 mil empresas de capital aberto, ao longo de 20 anos — contraria a noção, corroborada por pesquisas anteriores, de que operações do gênero normalmente trazem prejuízo ao acionista no longo prazo.

Pesquisadores da multinacional americana de software Intralinks e da Cass Business School, da City University London, mapearam 1.469 companhias que obtiveram retorno acima do mercado para seus acionistas, a partir de operações de M&A (sigla em inglês para fusões e aquisições). Esse grupo de elite foi comparado ao restante da amostra, com o objetivo de identificar quais as características comuns das companhias que tiraram melhor proveito das operações. “A consistência e a frequência das fusões e aquisições têm uma correlação com o sucesso da estratégia de longo prazo dessas companhias”, explica Claudio Yamashita, diretor da Intralinks Brasil. Já as empresas que registraram um volume tímido de operações de M&A no período pesquisado — entre 1994 e 2013 — apresentaram retorno inferior ao acionista, uma vez que as fusões e aquisições foram iniciativas pontuais, fatos isolados, dentro da estratégia de longo prazo, acrescenta Yamashita.

O levantamento indica ainda que as companhias mais jovens, listadas em bolsa há menos tempo, têm comportamento “aquisitivo” acima da média. Isso porque os recursos oriundos da capitalização podem ser utilizados na compra de empresas, como parte de uma estratégia de crescimento relativamente comum entre as companhias jovens. “Muitas delas partem da premissa de que uma estratégia de crescimento orgânico só pode levá-los até um determinado patamar”, diz Yamashita. A amostra de 25 mil companhias inclui apenas companhias abertas com valor de mercado de pelo menos US$ 10 milhões.

Na lista de “excelentes gestores de portfólio corporativo”, que reúne aqueles com retorno acima da média, estão seis companhias brasileiras: Estácio Participações, Hypermarcas, JBS, Petrobras, Totvs e Vale. Como exemplo de estratégia bem-sucedida, Yamashita cita o frigorífico JBS, que — na avaliação dele — realizou um processo de diluição de risco ao internacionalizar seus negócios, por meio de aquisições no exterior. A Totvs, que atua no segmento de software de gestão, não teve problemas para incorporar as dezenas de empresas adquiridas ao longo da sua trajetória, lembra Renato Chiodaro, advogado especializado em direito societário. “A Totvs compra a propriedade intelectual, os softwares produzidos por outras empresas. A estrutura dessas companhias é o que menos importa”, resume ele. “Na indústria, a integração é mais complicada: há toda uma estrutura de fábricas.”

Entre as características mais frequentes das 1.469 “vencedoras” listadas no estudo estão: o uso de estratégias mais ousadas, com maior risco de execução; a habilidade para fechar negócios rapidamente; o emprego de operações em dinheiro; e a aversão a aquisições muito grandes ou “transformacionais”.

Outro fator relevante para obter resultados positivos é o hábito de fazer mais aquisições que desinvestimentos. O grupo de elite faz 3,4 vezes mais aquisições do que vendas de empresas, enquanto o restante da amostra tem, em média, o mesmo valor nas duas transações.

Levantamentos realizados anteriormente, com base em dados de companhias abertas americanas, estimavam em 50% a chance de uma operação de M&A trazer ganhos para os acionistas, conta Rodrigo Zeidan, professor de economia e finanças da Fundação Dom Cabral. A discrepância desses resultados em relação à pesquisa da Intralinks e da Cass Business School pode ser explicada, em grande parte, pelas diferentes condições de mercado. “O mercado americano, por exemplo, tem mais liquidez. Há mais oportunidades de vender uma empresa. A tendência é de que a empresa valha mais já que recebe mais ofertas. Com isso, diminui o prêmio a ser ganho pelo adquirente”, diz o docente. “Já no Brasil há uma quantidade enorme de empresas mal administradas e o mercado é mais fechado. A precificação é mais opaca, o que permite ganhos maiores em fusões e aquisições”. Zeidan cita a Estácio Participações como companhia que se beneficiou de ganhos de escala e melhoria na administração. DO BRASIL ECONÔMICO Leia mais em midianews 26/06/2015

26 junho 2015



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