19 junho 2015

Crédito escasso leva companhias a vender ativos, mostra estudo

A restrição no crédito tem levado mais empresas no Brasil a vender ativos para melhorar sua posição de capital, mostra estudo da Deloitte. Aumentou de 19%, em 2009, para 57%, no ano passado, a proporção de companhias ouvidas pela consultoria que se desfizeram de ativos.

Entre os motivos apontados para essas operações, destacam-se a necessidade de reequilibrar a posição financeira, de melhorar a liquidez e de pagar dívidas ou reduzir passivos.

O movimento se acentuou nos dois últimos anos, quando a economia piorou e as fontes de financiamento ficaram mais escassas. Em 2012, 33% das empresas venderam ativos, diz o levantamento.

"Está havendo desinvestimento como forma de criar liquidez", afirma Reinaldo Grasson, sócio da área de assessoria financeira da Deloitte. "Ao mesmo tempo, as empresas têm feito uma reavaliação de portfólio, olhando o que vale a pena manter."

O estudo, obtido com exclusividade pelo Valor, ouviu executivos de 221 empresas de diversos setores, com faturamento e tamanhos distintos. Do total da amostra, 67% das companhias faturam até R$ 250 milhões por ano, enquanto 17% têm receita que começa nesse patamar e vai até R$ 1 bilhão. Outros 16% têm faturamento anual superior a R$ 1 bilhão. Pouco mais da metade das empresas é de controle familiar e apenas 7% têm ações listadas na BM&FBovespa.

Esse processo deve continuar intenso. A Petrobras já anunciou um programa de desinvestimentos de US$ 13,7 bilhões. Outras companhias de construção e do setor de petróleo também planejam vender ativos para melhorar sua situação financeira, abalada pelas investigações da operação Lava-Jato da Polícia Federal, que investiga casos de corrupção.

Se a venda de ativos tem sido um caminho diante das opções de financiamento mais escassas, as aquisições devem ganhar força nos próximos dois anos.

Entre as estratégias para esse período, a aquisição de outra empresa foi apontada por 39% dos entrevistados; as fusões foram mencionadas por 36% dos executivos e a aquisição de ativos de outras companhias foi indicada em 34% das respostas. As vendas de ativos foram citadas por 17%, enquanto 25% disseram cogitar a venda do controle da empresa. Cada entrevistado podia indicar mais de uma alternativa.

Em 2015, foram anunciadas 353 transações até agora, que devem movimentar R$ 56,6 bilhões. Os dados são da Transactional Track Record (TTR) e da Merrill Datasite, plataformas que compilam informações de mercado.

Segundo Grasson, da Deloitte, muitas companhias pretendem aproveitar a retração da economia para ganhar competitividade e se preparar para dias melhores. "As empresas e os investidores não vão ficar esperando a crise passar para fazer aquisições", diz.

Esse movimento já começou. A compra de ativos subiu de 13% das empresas em 2010 para 39% no ano passado. Também em 2014, 35% das companhias adquiriram o controle de outras empresas.

O cenário econômico difícil tornou os ativos mais baratos à medida que as avaliações das empresas foram revistas e o real se desvalorizou. "A diferença do preço esperado por compradores e vendedores diminuiu. Agora, as expectativas estão mais alinhadas", diz o sócio da Deloitte.

Também contribui para a maior procura por fusões e aquisições o fato de que o mercado está quase fechado para ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês). Sem a possibilidade de venda na bolsa, operações privadas tornaram-se em muitos casos a única opção disponível para levantar capital.

Poucas companhias apostam em uma mudança rápida nesse horizonte. Apenas 3% das empresas consultadas pela Deloitte disseram ter planos de fazer IPO ainda em 2015. As incertezas sobre a economia e a preferência por esperar um momento melhor foram as principais razões indicadas para não recorrer à bolsa neste ano.

Diante disso, o reinvestimento dos lucros foi a principal fonte atual de captação de recursos apontada empresas. Do total de entrevistados, 71% mencionaram o uso desse dinheiro, que mostra que as companhias estão gastando o caixa para bancar seus projetos de expansão. Os empréstimos e financiamentos bancários foram citados por 39% das empresas. Bancos de fomento (36%) e empréstimos de partes relacionadas (18%) também têm sido utilizados. Fonte: Valor | Por Talita Moreira | De São Paulo | Leia mais em alfonsin 19/06/2015

19 junho 2015



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