02 fevereiro 2015

Telecom Italia prioriza TIM Brasil e pode fazer aquisição na Europa

O estilo da Telecom Italia é de não fazer nada “no meio do furacão”, disse ao Valor o presidente mundial do grupo, Marco Patuano. A estratégia é investir mais na TIM Brasil, com foco no aumento e na qualidade da rede. Aquisições, ao menos por enquanto, podem vir a acontecer, mas na Europa, onde o mercado de telecomunicações passa por um processo de concentração, informou Patuano.

Ele não descartou interesse em participar de processo de consolidação do setor também por aqui. Mas não agora. “Neste momento a situação nos sugere que seja melhor focar na TIM Brasil. Ao redor da possibilidade de uma integração há um nível de complexidade dificilmente compatível com a atitude de governança corporativa do grupo Telecom Italia”, resumiu.

Patuano não citou nome de empresas, mas tudo indica que ao usar a palavra “complexidade” referia-se ao centro do furacão em que está a Oi. E a preocupação é exatamente diante das especulações de que a tele italiana possa vir a fundir-se ou comprar a concorrente.

A Oi passa por um momento difícil, com constantes quedas de valor de mercado, uma dívida de R$ 46 bilhões e um polêmico processo de revisão da parceria com a Portugal Telecom que, por sua vez, está às voltas com a perda de quase € 900 milhões decorrente de um empréstimo feito à também portuguesa Rioforte.

Mesmo assim, a Oi vem declarando que quer ser protagonista no movimento de consolidação do setor no Brasil. O banco BTG foi contratado pela operadora para costurar uma proposta pela TIM, que seria comprada em conjunto com Claro e Telefônica. Ao final, as três companhias dividiriam os ativos da TIM. “Nunca vi um cheque na mesa”, disse Patuano.

“O estilo da Telecom Italia é de não fazer nada no meio do furacão. E sim ter uma atitude muito industrial. Neste momento a situação nos sugere que seja melhor focar na companhia [TIM Brasil]“, disse, lembrando que “a evolução é um pouco turbulenta, tem um pouco de agitação e a TIM está fazendo um trabalho muito certinho, com um passo depois do outro.”

Mas o executivo deixou claro que foram feitas análises em torno de oportunidades de aquisição. O objetivo é ter em mãos e fornecer “informação qualificada ao ‘board’ – seja da TIM, seja da Telecom Italia – com uma análise estratégica, financeira, industrial, regulatória e política feita junto com consultorias”.

Patuano veio ao Brasil acompanhado do presidente do conselho de administração da Telecom Italia, Gisueppi Recchi. Estiveram com o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, na quinta-feira em Brasília, e, na sexta, receberam o Valor na sede da TIM no Rio. Recchi veio conhecer o novo ministro e reforçar o interesse do grupo em investir mais no país, informou Patuano.

“Nunca falamos em vender nossa operação no Brasil. Há uma enorme desconexão entre o que pensamos, dizemos e o que as pessoas falam”, disse Recchi.

Ele explicou que o grupo está saindo da Argentina para concentrar-se no mercado brasileiro de telecomunicações, que é o quinto ou quarto maior do mundo e o segundo maior da operadora italiana. “Estamos olhando novas oportunidades, mas com disciplina e sem pressa e vamos fazer opções estratégicas” completou o presidente do conselho, referindo-se especialmente à Europa.

Ele e Patuano explicaram que o cenário com que a Telecom Italia trabalha é de que a consolidação do mercado na Europa será cada vez maior. Há um grande número de empresas com infraestrutura própria, cerca de 120. E, diante de tanta concorrência, partiram para guerra de preços que acabou retirando de muitas delas a capacidade de investimento.

Patuano explicou que haverá redução do número de “players” na Europa. É um processo que necessariamente vai passar pelo reagrupamento de empresas, em cada mercado e entre mercados. Tem havido consolidação interna, como já fizeram Alemanha, França e Inglaterra. A Itália, por exemplo, tem quatro operadoras e 60 milhões de habitantes. No Brasil, lembrou, também são quatro grandes, mas há 200 milhões de pessoas.

A falta de crescimento econômico na Europa, de acordo com o presidente da Telecom Italia, não é a causa desse processo de consolidação. “As telecomunicações são menos cíclicas que outras indústrias. O que fez cair o valor das companhias foi a ultracompetição. O número elevado de empresas gerou uma guerra de preços muito grande. E muitas operadoras não tem solidez financeira”, disse. A própria Telecom Italia sentiu a redução de novos assinantes, mas a geração de caixa se manteve, permitindo realizar investimentos.

A mudança na regra do jogo vai ser investir cada vez mais em rede, disse Patuano. E a competição não será por preço e sim serviço. Não é o mais barato que vai valer. O cliente poderá até pagar um pouco mais, mas vai querer qualidade na rede de dados. “A rede 4G [quarta geração da telefonia celular] vai ser o craque do mercado. É por isso que vamos aumentar os investimentos no Brasil. Rodrigo vai ter os recursos”, disse referindo-se à Rodrigo Abreu, presidente da TIM Brasil.

Os recursos, segundo Patuano, virão do próprio caixa da subsidiária brasileira. A ideia é não buscar financiamentos aqui devido à alta taxa de juros. No dia 20 de fevereiro a Telecom Itália vai divulgar os dados do balanço de 2014 e o novo plano de negócios. Depois haverá apresentação dos números aos investidores nos Estados Unidos e, por último, no Brasil. Notícia publicada pelo Valor – Heloisa Magalhães Leia mais em telcomp 02/02/2015

02 fevereiro 2015



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