08 dezembro 2014

Alavancagem das usinas brasileiras ainda deve piorar

Em relatório sobre as perspectivas para o segmento sucroalcooleiro na América Latina, a agência de classificação de risco Fitch avalia que 2015 ainda será desafiador para as companhias brasileiras, com preços do açúcar ainda baixos, pouco espaço para corte de investimentos e, consequentemente, uma piora da já elevada alavancagem.

O indicador, que expressa a relação entre a dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), tende a ser agravado até o fim de 2015 entre as empresas sucroalcooleiras classificadas pela Fitch.

A projeção é que a mediana (ponto que divide a amostra ao meio) do índice de alavancagem líquida ajustada dessas empresas alcance níveis superiores a 4,5 vezes ao fim do ano fiscal 2015, ante 4,2 vezes do observado em 30 de junho de 2014.

Com isso, afirma a agência em relatório, no próximo ano a tendência é de que o rebaixamento de nota de crédito desses players seja superior ao de afirmações, e não se espera ainda que haja elevações dessas notas. Na análise, a Fitch considera os ratings de algumas companhias do setor, entre as quais as brasileiras Biosev, a segunda maior do setor, a Tonon Bioenergia, a USJ Açúcar e Álcool e a Virgolino de Oliveira, todas emissoras de dívida externa.

Há, portanto, um risco elevado de necessidade de refinanciamento de dívida por essa indústria. Uma posição fraca de caixa na comparação com as dívidas de curto prazo, a geração de fluxo de caixa livre negativo e a ausência de fontes alternativas de liquidez, como venda de terras, justificam essa perspectiva negativa.

No relatório, a agência afirma que o pedido de recuperação judicial feito este ano pela Aralco e o anúncio da Virgolino de Oliveira (GVO) de que iniciará negociações com credores sobre os termos e condições dos bonds de US$ 735 milhões "impactaram a confiança dos bancos domésticos e reduziram o apetite de investidores internacionais pelo setor". O cenário tende a reduzir a disponibilidade de financiamento de capital de giro desses players.

Do ponto de vista do aumento da rentabilidade das usinas, a Fitch vê poucas perspectivas. A recuperação dos preços do açúcar ainda está lenta, na visão da agência, e o reajuste na gasolina de 3% anunciado pela Petrobras no início deste mês traz ganhos limitados à rentabilidade do biocombustível. O aumento da mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina para 27,5%, ante os atuais 25%, deve também trazer apenas um pequeno alívio aos produtores.

Para a agência, a lenta recuperação dos preços internacionais do açúcar deve afetar negativamente todas as empresas latino-americanas. Se não houver retomada tanto nas cotações do açúcar quanto nas do etanol, o "atual nível de queima de caixa e a fraca posição de liquidez resultarão em rebaixamentos no curto prazo", prevê a Fitch.

Assim, a visão da agência é de que haverá uma pressão contínua sobre o fluxo de caixa livre e a alavancagem dessas empresas nos próximos 12 meses. "Os volumes [de cana-de-açúcar] moídos se reduzirão no ano fiscal de 2015, com possível impacto sobre a colheita de 2015/16 devido às más condições climáticas no Centro-Sul. Ainda, segundo a agência, a prolongada entressafra deste ano será um desafio para as companhias menos capitalizadas.  (Valor Econômico, 28/11/14) Leia mais u-sinas 30/11/2014

08 dezembro 2014



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