05 outubro 2014

“Há muitas oportunidades para fusões e aquisições”

A CPFL Renováveis  anunciou esta semana a incorporação da Dobrevê Energia S.A. (Desa), assumindo o controle de usinas eólicas da ex-concorrente no Rio Grande do Norte,  de pequenas centrais hidrelétricas em Santa Catarina, Mato Grosso, Paraná e Minas Gerais, além de empreendimentos em fase de construção. A operação ocorre em meio a um cenário aquecido para fusões e aquisições no setor e novas investidas não são descartadas. “No último ano, a Companhia já investiu aproximadamente R$ 1 bilhão e sempre está analisando novas oportunidades, seja por M&A (fusões e aquisições) ou desenvolvimento de novos projetos”, diz o presidente da CPFL Renováveis, André Dorf.  Nesta entrevista, ele explica os ganhos com a incorporação da Desa – que incluem a consolidação da companhia entre as maiores geradoras privadas de energia no Brasil - e trata de questões como a expansão da indústria eólica, os desafios da energia solar, os próximos leilões e preços. Confira os principais trechos da entrevista:

A CPFL aprovou uma associação com a Dobrevê a partir deste mês. O que motivou essa operação?
Tanto a CPFL Renováveis quanto a Desa atuam no mesmo segmento e seus ativos são complementares resultando em uma plataforma robusta de ativos em operação. Além disso, ambas as companhias tinham práticas alinhadas de sustentabilidade e criação de valor. Com a associação, a CPFL Renováveis elevará em 19% a capacidade de geração da empresa e voltará para a liderança em termos de capacidade total contratada.

Mas como essa associação se dá na prática?
A associação ocorrerá por meio da entrada da Desa como acionista minoritária no capital da CPFL Renováveis, aportando na companhia os ativos e recebendo em contrapartida, ações da CPFL-R. Portanto, o acordo envolve uma troca de ações, após o aumento de capital da CPFL Renováveis, ao invés de uma negociação em dinheiro. A CPFL Renováveis incorporou a WF2, detentora da totalidade das ações de emissão da Desa, e promoveu um aumento de capital. Com isso, o Arrow – Fundo de Investimento em Participações (FIP Arrow), que era o único acionista da WF2, recebeu novas ações de emissão da CPFL Renováveis, representativas de 12,27% do capital social total da companhia, e passou a ter um representante no Conselho de Administração.

O que muda para as duas empresas a partir de agora?
A associação permite que os acionistas da Desa permaneçam investidos no setor elétrico, ao mesmo tempo que consolida a plataforma da CPFL Renováveis, que conta agora com 80 ativos em operação e sólido pipeline para crescimento no futuro.
Com a operação, a CPFL Renováveis permanece na liderança da geração de energia a partir de fontes renováveis, também aparece no ranking dos dez maiores produtores de energia hidrelétrica em geral. Segundo levantamento que a Companhia fez a partir de dados divulgados pela Aneel e de acordo com balanços das empresas de energia, a CPFL Renováveis após a associação está entre as dez maiores em capacidade total instalada em operação no ano de 2014. O nome Desa deixará de existir.

Alguma das novas usinas incorporadas está no Rio Grande do Norte?
Sete parques eólicos em operação e 1 parque eólico em construção foram incorporados na associação. Todos no Rio Grande do Norte. Os empreendimentos ficam 100% no controle da CPFL Renováveis.

Como fica a presença  da empresa no RN agora?
Considerando somente o que já está em operação, antes da associação com a Desa, o portfólio era composto pelo Complexo Santa Clara, com o total de capacidade instalada de 188 MW (em Parazinho/RN), Complexo Macacos I, com o total de capacidade instalada de 78,2 MW (em João Câmara/RN) e Parque eólico Campo dos Ventos II, com capacidade instalada de 30,0 MW (em João Câmara /RN). Após a Associação, foram acrescentados ao portfólio o Complexo Morro dos Ventos, com o total de capacidade instalada de 145,2 MW e o Complexo Eurus, com o total de capacidade instalada de 60,0 MW, ambos em João Câmara /RN.

Qual é o plano de investimentos da companhia para 2014 e num horizonte mais longo? O apetite aumenta com essa associação?
A Companhia pretende dar continuidade ao seu plano de expansão que pode acontecer por meio do desenvolvimento de novos projetos que tenham energia vendida nos leilões ou de oportunidades de M&A (sigla inglês que significa Mergers & Acquisitions, ou Fusões e Aquisições). No entanto, é importante frisar que temos alta disciplina financeira e, portanto, nosso crescimento é pautado na criação de valor. Todas as oportunidades serão analisadas, com muito rigor, e as melhores serão aproveitadas. Mas não é possível garantir se haverá aquisições no curto prazo, pois uma série de fatores precisa ser levada em conta no momento em que surgir a oportunidade. Além disso, nosso plano de expansão também pode acontecer por meio do desenvolvimento de novos projetos a serem inscritos em leilões de energia.

Há novos projetos para o RN?
Temos ainda alguns projetos em construção no Rio Grande do Norte que ficarão prontos em 2016. O parque Morro dos Ventos II (oriundo da Desa), com capacidade instalada de 29,2 MW, e o complexo Campos dos Ventos e São Benedito  totalizando 231 MW em capacidade instalada.

Um estudo recente da KPMG mostra que só este ano foram contabilizadas 27 operações de fusões e aquisições no setor de energia do Brasil, no primeiro semestre. No ano passado foram oito. O que tem favorecido essa onda em 2014? A redução do número de empresas no setor é positiva para o mercado?
Não podemos nos posicionar quanto ao posicionamento dos demais players e desconhecemos a forma de “apuração” das aquisições do setor mencionada no estudo. Entretanto, o setor de energias renováveis ainda é muito fragmento, há muitas oportunidades para fusões e aquisições. A CPFL Renováveis, nos últimos anos, foi a empresa que mais fez operações desta natureza. Há diversos empreendedores de pequeno porte que estão entendendo que este é um negócio de escala, portanto, acesso a crédito e domínio da tecnologia são fundamentais na gestão dos ativos.

Com relação aos leilões de energia, haverá um novo este mês e um outro em novembro. A CPFL participa?
Nós cadastramos projetos para os próximos leilões, entretanto, detalhes sobre quais são os projetos, fonte e localização preferimos não divulgar, pois isto interfere na competitividade do leilão e na estratégia da Companhia. Temos um pipeline de quase 4 GW de projetos a serem desenvolvidos nos próximos anos. Esses projetos serão, de maneira gradual, inscritos nos futuros leilões de energia nova regulados pela Aneel, desde que a Companhia entenda que as condições vigentes à época sejam suficientes para atender ao retorno exigido pelos seus acionistas. Também estudamos investimentos em diversos segmentos de energias renováveis e, no momento oportuno, inscreveremos nossos projetos nos leilões de energia nova regulados pela Aneel.

O setor eólico vem batendo recordes nos leilões e os investimentos aceleraram nos últimos anos. Que balanço é possível fazer sobre as políticas de governo adotadas para o setor? O que precisa ser mantido e o que deveria mudar na próxima gestão?
A CPFL Renováveis não comenta assuntos relacionados às políticas adotadas pelos governos. Entretanto, você está correta, a fonte eólica está vivendo um bom momento, vem sendo a mais competitiva nos últimos leilões. Por questões relacionadas à boa condição de vento do País e a disponibilidade e preço dos equipamentos. De qualquer forma, para que este crescimento ocorra de forma ainda mais significativa, como em qualquer indústria, a cadeia de suprimentos precisa expandir-se ainda mais.

Os atrasos nas linhas de transmissão são um problema do passado ou ainda há algum parque da empresa parado à espera de conexão?
Os empreendimentos, contratados no Leilão de Energia de Reserva (LER) de 2009, estavam aptos para entrar em operação desde julho de 2012, quando tiveram suas receitas reconhecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No entanto, os parques foram impedidos de injetar energia no sistema enquanto a ICG à qual se conectam não estivesse em operação comercial. A situação foi regularizada em março de 2014, quando a ICG foi disponibilizada e começamos a injetar energia no sistema.

Campos dos Ventos II e Complexo eólico Macacos estão prontos e auferindo receita desde setembro de 2013 e maio de 2014, respectivamente. Entretanto estamos aguardando a conclusão das ICGs. Adicionalmente, a Companhia alterou o cronograma para inicio de operação gradual a partir de abril de 2016 dos Complexos Campo dos Ventos e São Benedito que totalizam 231 MW e, portanto, a ICG já estará pronta.

O site da CPFL mostra, entre os investimentos, apenas uma usina solar. Há planos de crescimento relacionados a essa fonte de energia ou a empresa pretende manter o foco principalmente em eólicas e pequenas centrais hidrelétricas?
Em 2012, a empresa inaugurou como projeto piloto a usina Tanquinho (SP), a única usina solar em operação do Estado de São Paulo, com 1 MW/p de potência. Este projeto tem sua energia vendida através de um PPA, um contrato de energia de longo prazo no mercado livre. A energia solar possui boas perspectivas no Brasil, mas ainda precisa de um tratamento diferenciado para que possa ser viável a geração. A CPFL Renováveis está atenta ao potencial dessa fonte.

O que dizer sobre a inserção da energia solar nos leilões?
No último leilão A-5, realizado em dezembro, foram cadastrados vários projetos, mas nada foi vendido. Aliás, nenhuma empresa vendeu energia solar nesse certame, em consequência da falta de competitividade da fonte em relação às outras, principalmente a eólica. A energia solar em um país tão abundante de raios solares como o Brasil pode se tornar mais competitiva – com preços e custos melhores – e produtiva, com aumento da capacidade de geração em usinas mais concentradas.

Como avalia o preço estabelecido para o leilão de outubro (R$ 262 o Mwh)?
A CPFL Renováveis é uma empresa com alta disciplina financeira e, portanto, os preços sinalizados nos leiloes precisam atender às nossas premissas de investimento. Nos últimos anos, este cenário havia se deteriorado e ficamos afastados dos leilões por algum tempo. Não vendemos projetos nos leilões de 2012 e 2013. Somente no leilão A-5 de 2013, com preço médio mais elevado, nossa participação foi viabilizada.

Este ano, a CPFL Renováveis optou por não participar do A-3 realizado em junho de 2014, em razão de fatores como o risco de conexão, disponibilidade dos equipamentos e prazo de implantação. As condições vigentes no atual momento não são suficientes para atender ao retorno exigido pelos nossos acionistas.

Para os próximos nós temos projetos cadastrados, mas ainda não é possível garantir ou não nossa participação em futuros leilões de energia e em quais modalidades, mas iremos avaliar as condições de venda de energia para possível participação. Os preços de energia solar estão dentro das expectativas do mercado, entretanto, ainda há incertezas sobre as regras do grau de nacionalização para que os fornecedores possam apresentar suas propostas, pensando em alternativas para o financiamento a ser “perseguido” pelos empreendedores.

O preço da energia solar ainda é quase o dobro da eólica. Uma possível queda dependeria de que?
Existe um grande interesse do próprio MME (Ministério de Minas e Energia) para que a fonte solar seja viável ainda esse ano, visto que há previsão de um leilão de reserva específico para essa fonte no 2º semestre (Diretrizes do leilão A-0 (solar). Esse mercado precisa de um empurrão inicial para começar no Brasil, pois apesar do interesse na fonte, os players ainda estão se estruturando. Assim, a fonte solar ainda não é competitiva com as demais fontes.

Esse boom no setor de eólica deve se repetir com essa outra fonte de energia?
Para afirmar que as outras fontes terão uma grande visibilidade, precisamos esperar regras regulatórias mais claras nas outras fontes, para ela ser viável e com um retorno desejável. Por exemplo, o BNDES ainda não fechou os termos de nacionalização /condições de financiamento dos fornecedores de painel solar.

Formação
É graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Carreira
Iniciou sua carreira em 1996, atuando em bancos de investimentos como Banco Patrimônio de Investimentos, Chase Manhattan Bank e JP Morgan (SP e NY). Nos últimos três anos, exerceu o cargo de Presidente da Suzano Energia Renovável e anteriormente atuou na Suzano Papel e Celulose como Diretor Executivo de Desenvolvimento e Novos Negócios (de 2003 a 2005), Diretor Executivo da Unidade de Negócio Papel (de 2005 a 2008) e Diretor Executivo de Estratégia, Novos Negócios e Relações com Investidores (de 2008 a 2010).

RAIO-X DA EMPRESA  Como era e como fica a CPFL Renováveis após associação.

Nome   CPFL Renováveis   Ano de criação: 2011  Faturamento: R$ 1 bilhão (em 2013)

NÚMEROS  542 MW adicionados ao portfólio através de aquisições desde a criação.   632 MW foram construídos.

PORTFÓLIO ANTES DA ASSOCIAÇÃO COM A DESA
1.495,1 MW em operação;   282,3 MW em construção;   3.767 MW, em fases de preparação e desenvolvimento, considerando quatro fontes de energia  (eólica, pequenas centrais hidrelétricas - PCHs, termelétricas – UTEs e solar);   5.544,1 MW era a capacidade total.

PORTFÓLIO APÓS A ASSOCIAÇÃO COM A DESA
1.772,6 em operação;  335,5 MW em construção;  3.767 MW, em projetos nas fases de preparação e desenvolvimento;  5.874,9 MW passa a ser a capacidade.

ESTRUTURA AGORA
Em operação   38 PCHs (399,00  MW)   33 parques eólicos (1.002,60 MW)  8 UTEs ( 370,00 MW) 1 usina solar (1,10 MW)

Em construção
1 PCH (24 MW) 12 parques eólicos (311,50)

Em preparação e desenvolvimento 3.767 MW, nas quatro fontes de energia | Fonte: CPFL Renováveis | Renata Moura Editora de economia Leia mais em Tribunadonorte 05/10/2014

05 outubro 2014



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