09 outubro 2014

Caçador vira caça na onda atual de fusões e aquisições

Um aviso para as empresas fazendo ofertas para comprar suas rivais: cuidado para não ser comprada.

Várias companhias que fizeram acordos para comprar outras neste ano acabaram virando presa de peixes ainda maiores, que tentaram abocanhá-las antes que fechassem suas próprias compras.

Os acordos ao estilo “devorando-se uns aos outros” estão surgindo como uma tática definidora do atual boom de fusões e aquisições, que superou recordes registrados desde 2007.

Neste mercado aquecido, empresas considerando aquisições estão dando o bote rapidamente se seu alvo potencial ameaça ficar muito maior ou menos atrativo fazendo ele mesmo uma aquisição.

A tendência é “fazer tudo para preservar a opção estratégica de comprar uma empresa”, diz Joseph Perella, presidente do conselho de administração e sócio fundador do banco de investimento Perella Weinberg Partners.

Às vezes chamada de “oferta pelo ofertante”, o movimento é uma variação da aquisição hostil — tática em que empresas tentam comprar alvos resistentes. Negociadores dizem que esta variante específica, de predadores se tornando presas, era rara nos ciclos anteriores de fusões e aquisições.

Este ano, contudo, aconteceram pelo menos quatro casos de empresas tentando comprar alvos importantes que haviam anunciado suas próprias transações. Duas das transações anunciadas foram desfeitas.

A tendência está levando as empresas a repensar como devem estruturar suas aquisições para evitar que terminem virando alvos, dizem negociadores. Os ofertantes desta onda de aquisições estão mais agressivos que nos anos anteriores, o que resulta em mais movimentos invasivos, diz Alex Hecker, um dos diretores de fusões e aquisições das áreas de consumo e varejo da Lazard.


A Hillshire Brands, dona de marcas de salsichas, tinha fechado a compra da Pinnacle Foods, mas acabou sendo comprada pela Tyson Foods. Associated Press

O próprio Hecker esteve no centro de uma operação no início do ano, quando seu cliente, a empresa de carne de aves Pilgrim’s Pride Corp. PPC +1.29%  , controlada pela brasileira JBS, fez uma oferta não solicitada pela produtora de salsichas Hillshire Brands Co., que já havia fechado a compra da empresa de alimentos congelados e enlatados Pinnacle Foods Inc. PF +0.03%  No fim, a Hillshire foi adquirida por outro ofertante, a processadora de carnes Tyson Foods, TSN +0.12%  e o acordo com a Pinnacle foi cancelado.

Na semana passada, a Salix Pharmaceuticals Ltd. SLXP +0.60%  , fabricante de medicamentos para distúrbios gastrointestinais, cancelou um negócio de US$ 2,7 bilhões para se unir à farmacêutica Cosmo Technologies Ltd. Um dos culpados, segundo uma pessoa a par do negócio, foi o interesse de outra empresa pela Salix.

Há alguns meses, a fabricante do Botox, Allergan Inc., AGN +0.06%  abordou a Salix para uma aquisição, notícia que fez com que as ações da Salix subissem. A investida da Allergan ocorreu num momento em que ela tenta escapar de uma oferta hostil de US$ 53 bilhões da concorrente Valeant Pharmaceuticals International Inc. VRX.T -0.71%  Mais tarde, outra farmacêutica, a Actavis ACT +0.18%  PLC, também procurou a Salix, segundo uma pessoa a par do assunto. Desde que as abordagens foram noticiadas, o valor de mercado da Salix subiu cerca de 6%, indicando que os acionistas da Salix preferem ser comprados a comprar a Cosmo.

Vários fatores estão impulsionando a tendência. O total de negócios em dólar até agora no ano subiu 39% em relação ao mesmo período de 2013, segundo a Dealogic. Foram registrados até agora US$ 2,7 trilhões em negócios, o valor mais alto no período desde 2007. As operações hostis cresceram ainda mais, 338% ante 2013, para US$ 557 bilhões, de acordo com a Dealogic.

Além disso, com as ações subindo há vários anos, as empresas cada vez mais oferecem ações como parte de suas ofertas. Essa estratégia pode exigir que os compradores submetam suas aquisições à aprovação dos acionistas, o que pode deixar os compradores vulneráveis se outra empresa precipitar-se em comprá-los, oferecendo um prêmio elevado. Os acionistas do comprador que virou alvo podem ficar mais tentados a embolsar o lucro da venda do que aprovar uma compra que poderá ou não dar retorno com o tempo.

A vulnerabilidade que uma aquisição por ações pode criar levou algumas empresas a reavaliar o volume de ações usado em operações de compra, dizem negociadores. Fechar um acordo que exige que os acionistas do comprador também votem, além dos acionistas da empresa alvo, amplia ainda mais o risco.

A Allergan, por exemplo, contemplou uma oferta toda em dinheiro pela Salix, o que não exigiria que os acionistas da Allergan votassem, segundo pessoas a par do negócio.

Os acordos de “inversão fiscal”, que geram benefícios fiscais e também estão em alta neste ano, alimentam a tendência de abordagens não solicitadas e não oferecem uma solução alternativa. Nesses acordos, uma empresa compra outra num país diferente para mudar de sede e pagar menos impostos. Foram registradas mais de uma dezena de tentativas de inversão neste ano, segundo a Dealogic, incluindo a operação entre a Salix e a Cosmo. As regras do Tesouro americano exigem que os compradores usem ações nesses acordos para que os acionistas estrangeiros da empresa vendida tenham participações na nova empresa. A regra essencialmente dá poder de veto aos acionistas da empresa compradora num acordo de inversão. O pagamento em dinheiro não é uma solução possível.

Os grupos brasileiros Cutrale e Safra tentaram estragar a tentativa de inversão da Chiquita Brands International Inc. CQB -0.70%  com a irlandesa Fyffes FFY.DB -2.51% PLC. Em agosto, a Cutrale e o Safra fizeram, juntos, uma oferta de compra pela Chiquita, provocando uma alta de quase 30% em um dia nas ações da produtora de bananas.

Em junho, a Auxilium Pharmaceuticals Inc., AUXL +10.72%  fabricante de remédios para disfunção erétil, aceitou se unir com a fabricante canadense de produtos oculares QLT Inc., QLT.T -0.44%  numa operação de inversão que permitiria à Auxilium se mudar para o Canadá e reduzir seus impostos.

Mas, no mês passado, a farmacêutica Endo International PLC fez uma oferta não solicitada de US$ 2,2 bilhões pela Auxilium, que esta rejeitou. A Endo alega que a oferta é uma oportunidade que deve prevalecer sobre os planos anteriores da Auxilium. “Estamos oferecendo um prêmio substancial e imediato em dinheiro aos acionistas da Auxilium”, afirmou a Endo. By DANA MATTIOLI CONNECT Leia mais em thewallstreetjournal 09/10/2014

09 outubro 2014



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