07 junho 2014

CENÁRIOS-Instituições financeiras do Brasil devem ter nova onda de internacionalização

A corrida de bancos europeus e norte-americanos para se desfazer de ativos não essenciais e fortalecer o capital deve abrir caminho para uma nova rodada de expansão no exterior de empresas financeiras brasileiras bem capitalizadas nos próximos meses e anos.

Itaú Unibanco e BTG Pactual devem seguir liderando o movimento de aquisições no exterior, sendo eventualmente seguidos por Bradesco , BM&FBovespa , Porto Seguro e Banco do Brasil , acreditam profissionais do mercado.

No caso dos bancos, o movimento responde à necessidade de diversificação de receitas e de riscos, especialmente diante do prolongado cenário de baixo crescimento da economia doméstica, que tem pressionado suas margens.

"A gente vai ver mais alguns movimentos de consolidação para fora", disse à Reuters o economista João Augusto Frota Salles, da consultoria RiskBank.

O Itaú Unibanco , que passou a ter 15 por cento de suas receitas no exterior com a compra do chileno Corpbanca no começo do ano, prospecta aquisições no México e no Peru, "para depender não só da economia brasileira", disse recentemente a jornalistas o presidente-executivo do banco, Roberto Setubal.

A ofensiva do Itaú vem na esteira da perda de participação dos bancos privados no mercado de crédito brasileiro para os rivais públicos. As instituições privadas têm buscado alternativas para proteger as margens de lucro, incluindo aumento das receitas com serviços, como cartões e seguros.

Em paralelo, a lentidão do mercado doméstico de capitais --o de ofertas de ações concorre a ser o pior em uma década-- tem feito o BTG Pactual também acelerar seus planos fora do Brasil.

O grupo comprou no mês passado 2 por cento do italiano Banca Monte dei Paschi di Siena e negocia a compra da gestora de recursos suíça BSI, mostrando apetite por ativos fora de seu mercado prioritário, a América Latina.

"O BTG Pactual vai se focar em aquisições oportunistas", disse o analista do setor financeiro da gestora Brasil Plural, Eduardo Nishio.

Segundo ele, talvez com exceção das pretensões do Itaú Unibanco para o mercado mexicano, onde o banco brasileiro deve fazer grande desembolso para entrar no segmento de varejo, as demais operações de financeiras brasileiras lá fora tendem a ser mais pontuais, explorando mercados de nicho.

Nesse aspecto, disse Nishio, negócios de banco de investimento e de gestão de recursos tendem a se destacar, por comprometerem menos capital e fortalecerem franquias já fortes de bancos brasileiros. O Itaú está montando seu banco de investimento no México, assim como o BTG Pactual, que também tem lá um braço de gestão de recursos, além da parceria com a chilena Celfin.

Para analistas, essa estratégia conservadora é explicada em parte pelo desinteresse mais recente pelo modelo de banco de varejo global, após experiências de gigantes como Citi e HSBC , que têm vendido operações em várias partes do mundo, diante da necessidade de capital para fortalecerem suas matrizes.
De forma mais tímida, o Bradesco também vem fazendo suas incursões. No mês passado, sua franquia de banco de investimentos, o BBI, foi a primeira do Brasil a coordenar uma emissão securitizada nos Estados Unidos, a da Ford . E seu braço de gestão, a Bram, está em processo de registro de fundos em mercados europeus, como Portugal, Espanha, França, Itália e Reino Unido e Suíça. O plano é aumentar os ativos sob gestão no exterior, de 1 bilhão para mais de 6 bilhões de dólares.

"No Brasil e no exterior, o mercado bancário vai continuar se consolidando, mas de forma cuidadosa", disse o presidente sênior do JP Morgan no Brasil, José Berenguer, em palestra a executivos financeiros, nesta semana.

No Banco do Brasil, planos mais ambiciosos de expansão no exterior foram congelados após a compra do argentino Patagonia, em 2010, e do EuroBank, nos EUA, dois anos depois. As aquisições ajudaram a elevar a fatia estrangeira no resultado do banco estatal de 1 para 8 por cento. Na semana passada, o BB inaugurou uma agência na China.

O conservadorismo tende a ser a tônica também para instituições financeiras não bancárias. A BM&FBovespa , outra que vem sofrendo com a pasmaceira do mercado de capitais doméstico, vem sinalizando planos de crescer fora do país. "É o próximo item da nossa agenda", disse o presidente-executivo Edemir Pinto, em entrevista recente à Reuters.

No caso da bolsa, um dos caminhos considerados é o de ter participação minoritária, como na parceria estendida com a CME , em 2010, maior operadora de bolsa do mundo, na qual detém 5 por cento do capital.

Dentre as demais financeiras com operações no exterior, como a Cielo , dona da norte-americana Merchant e-solutions, e a Porto Seguro , que tem uma operação minúscula no Uruguai, analistas consideram que o avanço ainda vigoroso de seus segmentos no Brasil deve deixar o assunto expansão externa para depois. Reuters | Leia mais em yahoo 06/06/2014

07 junho 2014



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