24 maio 2013

Com Tumblr, Yahoo tenta levar "magia" aos negócios

Ian Schrager, fundador de uma rede de badalados hotéis butique, não começou sua carreira no ramo de hospedagem. Como um dos primeiros donos do Studio 54, ele esteve no centro da cena das noites dançantes de Nova York, quando a era das discotecas atingiu seu auge, no fim dos anos 70.

 Marissa Mayer, chefe do Yahoo: decisão de não interferir no trabalho do fundador e chefe do Tumblr, David Karp.

 Mas as discotecas não eram o seu mundo. "Quando você está no ramo de boates, você não tem nenhum produto", disse ele certa vez. "Você tem apenas magia." No Studio 54, no início dos anos 80, a magia tinha se dissipado.

 As mesmas preocupações que levaram Schrager a abandonar o setor de casas noturnas estavam perceptivelmente na mente da chefe do Yahoo, Marissa Mayer, nesta semana, ao anunciar sua primeira grande aquisição: a compra do Tumblr - por US$ 1,1 bilhão.

 O Tumblr encontrou uma fórmula que funciona bem entre o público de 18 a 24 anos de idade. Seu estilo frenético, beirando o anárquico, conflita com o estilo bem comportado do Yahoo.

 Mas Marissa disse que não vai interferir nas decisões de David Karp, fundador e executivo-chefe do Tumblr, e de outros profissionais criativos do site.

 Mas se a manutenção do sucesso de uma rede social, assim como o funcionamento de uma boate, depende de truques habilidosos, então, por que o Tumblr seria mais duradouro que o Studio 54? E como o Yahoo pode evitar o desastre que a News Corp sofreu após a aquisição do MySpace, ou do caso AOL pós-Bebo?

 Uma resposta é que essas aquisições foram diferentes. Roelof Botha, um empreendedor de capital de risco e diretor do Tumblr, diz que o MySpace e o Bebo tiveram a infelicidade de bater de frente com o rolo compressor das redes sociais.

 Os usuários de redes sociais geralmente querem apenas um lugar para manter suas identidades na internet e gerenciar suas conexões sociais. Cruzar o caminho do Facebook não era uma perspectiva viável.

 O Tumblr é diferente. Uma curiosidade para os não iniciados, o site combina microblog e compartilhamento social para criar uma espécie de bazar multimídia para interesses pessoais muitas vezes triviais, embora a distribuição de fotos com legendas bem-humoradas de Hillary Clinton enviando mensagens de texto, ou páginas para que os usuários compartilhem projetos do tipo "faça você mesmo", que fracassaram, podem não ser um atrativo para todos.

 Atender a uma necessidade diferente da que é oferecida pelo Facebook não diminui a dificuldade. Com poucas barreiras à entrada e uma audiência mundial disponível a ser capturada, nunca houve um negócio de mídia como o Tumblr. É difícil competir com a inesgotável experimentação na web.

 O truque, como Schrager percebeu, é encontrar um produto real que não dependa apenas de magia - o que, no seu caso, significou hospedagem.

 Facebook, o hotel da internet social, foi a iniciativa que mais chegou perto de replicar isso. Ter um lugar para manter suas "coisas" pessoais, onde os outros possam encontrá-lo e se conectarem com você são necessidades básicas compartilhadas pela maioria dos usuários de internet. O Facebook deu um passo além, conectando-se com outros serviços de internet para permitir que os usuários do Facebook mantenham suas identidades e vínculos sociais enquanto se movem pela web.

 Mas operar solitariamente no ramo de hospedagem não é suficiente. Até mesmo a Microsoft - no passado, a hoteleira onipresente no mundo da tecnologia, graças a seu monopólio do Windows, percebeu que precisava dar algo mais a seus clientes. Com o Office, a companhia também criou um aplicativo vencedor para PCs que deu a seus usuários uma forte razão para continuar usando sua plataforma.

 O Facebook enfrenta seu próprio desafio de "plataforma e aplicativo". Do incessante matraquear no Twitter ao bom gosto atraente no Pinterest, a atenção dos usuários de internet foi se fragmentando. Um sinal de alerta para o Facebook veio de um extenso relatório, nesta semana, sobre como os adolescentes usam as mídias sociais, publicado pelo Centro de Pesquisas Pew e pelo Berkman Center da Harvard.

 O entusiasmo dos adolescentes pelo Facebook é decrescente. Os que usam outros sites, como Instagram e Twitter, se sentem "capazes de se expressar melhor nessas plataformas".

 Esses jovens não estão se afastando totalmente do Facebook. Eles se sentem atados, sempre voltando para se certificar de que não estão perdendo nada do que seus amigos estejam fazendo. Mas quando algo que já foi um prazer torna-se uma tarefa, o destino está escrito. Como a Microsoft descobriu - e pagou por isso -, plataformas tecnológicas são negócios imbatíveis, até que a clientela aos poucos começa a adotar outras plataformas com as quais antes sequer sonhara.

 Mark Zuckerberg mostrou estar consciente desse perigo, agindo rapidamente, no ano passado, para abocanhar o Instagram, quando corria o risco de perder terreno em compartilhamento de fotos, um dos aplicativos decisivos nas redes sociais. Mas não vai ser fácil se manter atualizado em meio aos modismos mais recentes na web.

 Mais de 35 anos após a fundação do Studio 54, Schrager ainda revela sensibilidade ao espírito da época. Zuckerberg, Karp e Kevin Systrom, do Instagram, têm muita estrada pela frente, antes de igualarem o poder de permanência de Schrager. (Tradução de Sergio Blum) Por Richard Waters | Financial Times
 Fonte: Valor Econômico 24/05/2013

24 maio 2013



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