20 fevereiro 2013

Ainda não é hora de festa para as firmas de private equity

"Estamos em um novo mundo de fusões e aquisições ... eu espero!" Este e-mail de um banqueiro veterano resume a mescla de expectativas racionais e ilusões que estão tomando conta da comunidade global de tomadores de decisões de negócios.

 A bonança recente de acordos, incluindo os mais de US$ 40 bilhões de transações anunciadas na "quinta-feira das fusões" na semana passada, criou um alvoroço em Wall Street sobre uma possível nova onda de grandes fusões e aquisições.

Economias em recuperação, mercados de crédito mais acessíveis e empresas com caixas gordos e em busca de crescimento certamente apontam para essa direção. Mas esses fatores não serão suficientes para um boom de fusões e aquisições, a menos que as empresas de private equity desempenhem seu papel. Em 2006 e 2007, as ofertas feitas por firmas especializadas na compra de participações representaram cerca de um quarto do total de fusões e aquisições nos Estados Unidos, segundo a Dealogic. Desde então, elas não têm passado de 10% do total.

 A boa notícia é que o setor de private equity se encaminha para uma transformação que deve levar a mais ofertas, mas menos fundos de private equity.

 Os grupos de private equity são para as ofertas de fusão ou aquisição o que convidados animados são para o sucesso de uma festa: Eles chegam na hora, têm dinheiro para comprar bebida para os amigos e estão dispostos a conversar com estranhos.

 O ciclo de private equity funciona mais ou menos assim: As empresas arrecadam dinheiro de fundos de pensão e outros fundos de investimento, logo compram empresas baratas usando dívida e as reestruturam. Então, elas tentam vender o ativo reestruturado a um preço elevado em até cinco anos, ficam com uma porção (gorda) dos ganhos, devolvem o resto aos investidores, pedem a eles mais dinheiro para um novo fundo, e assim por diante.

 O boom de crédito entre 2005 e 2007 deu grande força a essa tendência. À medida que bancos e investidores jorravam recursos para o financiamento de aquisições, como a compra de US$ 45 bilhões da empresa de energia do Texas TXU Corp., os acordos foram ficando maiores e mais ousados.

 Isso incentivou executivos do setor de private equity a formar fundos cada vez maiores e atraiu novas empresas para o setor. De 2006 a 2008, os fundos globais de private equity levantaram mais de US$ 1,8 trilhão, quase três vezes mais do que nos últimos três anos, de acordo com a firma de pesquisa Preqin.

 A crise financeira pôs um fim à festa. E a recessão econômica que veio em seguida deu uma surra em muitas das empresas endividadas adquiridas nos tempos de expansão, tornando difícil para os proprietários do setor de private equity vendê-las.

 O congelamento do mercado inaugurou uma era de hibernação para as firmas de private equity. Participantes maiores, como a Blackstone Group LP e a KKR & Co. , se diversificaram em áreas menos cíclicas, como os fundos de hedge e de gestão de ativos. A maioria das outras firmas continuou lutando.

 Agora, estamos perto de um ponto de virada para os acordos, tanto em termos de oferta quanto de demanda. Considere o lado da procura em primeiro lugar. Uma onda de captação de fundos antes da crise deixou a indústria inundada de dinheiro, criando concorrência de ofertas que empurraram os preços para cima e reduziram a atividade.

 Mesmo agora, o nível de reservas nos cofres dos grupos de private equity é de cerca de US$ 1 trilhão, com mais de um terço desse montante reservado para aquisições.

 No ritmo atual de negócios, levaria mais de um ano para gastar isso.

 Mas muitos fundos não têm o luxo de esperar. Cerca de US$ 100 bilhões de fundos que não forem gastos até o fim de 2013 terão de ser devolvidos porque o compromisso de cinco anos feito pelos investidores se expira.

 Diante desse cenário, ou os grupos de private equity começam a comprar empresas antes que vença o prazo, com todos os riscos que isso implica, ou devolvem capital aos investidores, que não vão ficar felizes e provavelmente não voltarão a dar dinheiro a eles. A tensão se agrava pelo fato de que existem mais de 1.900 fundos de private equity à procura de dinheiro, um recorde de dar aos gerentes de fundos de pensão e outros investidores uma abundância de escolha. 

Como resultado, a atividade de fusões e aquisições deve aumentar e a concorrência por ofertas deve melhorar para aqueles fundos de private equity que sobreviverem.

 A inércia pós-crise também está afetando o suprimento de empresas disponíveis. Muitos fundos ainda possuem as empresas que compraram na farra entre 2005 e 2007 e podem se sentir tentados a garantir seus retornos desfazendo-se delas.

 "Ao longo dos próximos dois anos, poderemos ver uma queda na demanda de private equity por ativos justo quando há um aumento significativo na oferta", diz Scott Freidheim, diretor-presidente na Europa da Investcorp SA, um grupo de private equity com sede em Bahrain.

 O problema é que estas condições já existem há algum tempo e não temos visto muitos grandes negócios. A alta recente no mercado de ações torna as coisas ainda piores, aumentando o valor de mercado de empresas em bolsa. 

Quanto à dívida, mercados de títulos de alto risco que alimentam essas aquisições estão abertos, mas os bancos e os investidores têm relutado em permitir que as firmas de private equity usem tanta dívida como antes da crise.

 Aqueles que esperam a próxima grande festa de fusões e aquisições devem ter em mente que ela talvez tenha menos convidados de private equity, e mais sóbrios.Por FRANCESCO GUERRERA
Fonte: Wall Street Journal 19/02/2013

20 fevereiro 2013



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