10 janeiro 2013

Qual é a hora certa para sair de cena e iniciar a sucessão?

Depois de ter a competência (e a sorte) de fundar um negócio próspero, grandes empresários acabam enfrentando outro desafio: escolher a hora mais apropriada para sair de cena, nomeando um sucessor e preparando o terreno para garantir o bem-estar dos herdeiros.

Fundadores de empresas têm optado por deixar o negócio bem antes da idade de aposentadoria, buscando novos desafios, como o de ser conselheiros e investidores em ideias inovadoras.O empresário Miguel Abuhab, de 68 anos, começou a trabalhar com tecnologia nos anos 1970. Ainda funcionário da Consul, montou o sistema de informática da fábrica de eletrodomésticos, que hoje faz parte da Whirlpool. Após deixar a companhia, passou a prestar serviço para várias empresas, incluindo a catarinense Weg. Ele foi um dos donos da Datasul, companhia de tecnologia da informação absorvida pela gigante Totvs em 2008, por cerca de R$ 700 milhões.

 Após a venda desse negócio, Abuhab passou a se dedicar ao projeto Neogrid, que havia fundado em 1999 e ficou de fora da venda para a Totvs. A empresa é focada nas soluções tecnológicas para organizar a cadeia de suprimento de um negócio, incluindo relatórios sobre estoques de matéria-prima e a quantidade de mercadorias prontas para envio aos clientes.Apesar de ser o principal acionista da Neogrid, o empresário optou por não ser o presidente da companhia - decisão que foi mantida mesmo após a venda da Datasul. “Queria que a empresa tivesse vida própria”, conta Abuhab.

Além da Neogrid, Abuhab criou uma empresa de participações que lhe permitiu alçar voos fora do setor de tecnologia - ele investiu, por exemplo, na Vitare, de alimentos congelados. Além de supervisionar os investimentos, uma preocupação atual do empresário é a sucessão. Ele tem três filhos, de 26, 25 e 5 anos. “Estou criando uma estrutura de planejamento estratégico e tomada de decisões em colegiado, para que tudo não fique concentrado só no Miguel.”

Novo perfil. Outro nome conhecido do ramo da tecnologia, Marcel Malczewski, também optou por deixar o negócio que ajudou a fundar - a Bematech - bem antes de pensar em aposentadoria. Em 2009, aos 45 anos, ele saiu do comando da empresa após organizar oito aquisições em quatro anos.

Entre 2005 e 2009, o faturamento da Bematech saltou de R$ 50 milhões para R$ 330 milhões. Desde a saída de Malczewski, a Bematech fez uma “parada técnica” nas compras e repensou sua gestão. “Minha saída foi uma decisão planejada entre os sócios, pois era preciso renovar a liderança”, explica.

Essa necessidade de reorganização, admite o empresário, exigia um outro perfil de executivo. “Sou empreendedor. Meu interesse estava no rápido crescimento, nas aquisições e na abertura de capital, e não nessa reinvenção.”Além de fazer parte do conselho de administração da Bematech, Malczewski criou um fundo para investir em empresas de pequeno porte. Mas sua grande prioridade é outra. “Um terço do meu foco está na vida pessoal. Fiquei 20 anos respirando Bematech e mal vi meus filhos crescerem.”

Preparação. Para José Eduardo Martins, sócio da consultoria GPS, é importante que os empresários preparem os herdeiros para entender de negócios e também de investimentos financeiros - mesmo que a nova geração não venha a assumir a presidência da companhia.

Segundo Martins, é preciso que os filhos e netos do fundador sejam capazes de questionar atos de executivos ao assumirem uma cadeira no conselho. A consultoria, que administra R$ 14 bilhões em ativos de grandes fortunas, também recomenda que os clientes testem a capacidade de gestão financeira dos herdeiros.

No caso de grandes fortunas, ele sugere que os herdeiros com mais de 25 anos tenham de R$ 1 milhão ou R$ 2 milhões para administrar diretamente. Assim, quando chegar a hora de gerir uma parcela bem maior da fortuna, eles estarão menos sujeitos a erros.  Por Fernando Scheller
 Fonte: O Estado de S.Paulo 10/01/2013

10 janeiro 2013



0 comentários: