08 janeiro 2013

Empresas de menor porte também podem ir à Bolsa; saiba como

Vender uma parte da empresa por meio de ações ou adquirir empréstimos com investidores na Bolsa de Valores, negociando notas promissórias e debêntures, são maneiras de conseguir recursos para investir no negócio. Entretanto, antes de dar esse passo, a empresa precisa estar bem estruturada, possuir regras rígidas financeiras, de acordo com as exigências da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que regula o mercado.

 Entre elas estão adotar métodos de governança corporativa -conjunto de ações que permitem que os sócios verifiquem se a gestão da empresa está de acordo com seus interesses- e ter compromisso de transparência com o mercado.

 O economista Samy Dana, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), diz que a Bolsa é atraente porque a empresa consegue captar recursos a um custo mais baixo do que se pegasse um empréstimo bancário, por exemplo.

 Por outro lado, ela precisa investir no negócio para atender aos requisitos da CVM, como divulgação de relatórios financeiros trimestrais e anuais auditados, ter um conselho de administração e possuir um setor de conformidade, que garanta que a empresa atenda à legislação, e de atendimento aos investidores.

 Carlos Eduardo Lessa Brandão, conselheiro de administração do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), explica que as principais ferramentas de governança corporativa que asseguram o controle sobre a gestão são o conselho de administração, a auditoria independente e o conselho fiscal.

 Adequação do negócio pode levar mais de um ano 
 “Antes de ir para a Bolsa, a empresa tem que avaliar se está preparada para compartilhar muita informação. Em empresas menores, geralmente os próprios sócios estão na gestão. Adequar-se às regras de governança exige uma mudança cultural, que pode levar mais de um ano”, afirma.

 A dificuldade das empresas brasileiras de menor porte em atender a essas exigências é um dos motivos que fazem o Brasil ter menos empresas listadas na Bolsa de Valores do que países como Malásia e Mongólia, ocupando o 18º lugar no ranking de número de companhias listadas. De 2007 a 2012, o total de empresas listadas no país encolheu 9%, chegando a 361 empresas. Na China, por exemplo, esse número cresce em 400 empresas por ano.

 Os dados são do PAC PME (Programa de Aceleração do Crescimento para Pequenas e Médias Empresas), iniciativa do mercado que pretender ajudar no desenvolvimento de pequenos negócios e no seu acesso ao capital via oferta de ações em bolsa.

 Veja os pontos positivos e negativos de abrir capital na Bolsa

Positivos

  • Aumento no caixa ou de liquidez para os sócios, dependendo do tipo de emissão
  • Criação de uma moeda de troca na aquisição ou incorporação de outra empresa
  • Aumento da visibilidade, possibilitando eventuais fusões, aquisições ou incorporações
  • Diversificação das fontes de financiamento
  • Possibilidade de remuneração diferenciada da equipe através de opções de compra de ações da empresa, com o objetivo de retenção 

Negativos

  • Custos relevantes relacionados à abertura de capital e à manutenção de companhia aberta 
  • Aumentos nas despesas recorrentes e custos de compliance (conformidade) 
  • Necessidade de atendimento a normas específicas relacionadas à divulgação de informações, inclusive fatos relevantes que possam afetar a precificação da ação 
  • Caminho sem volta: fechar o capital de uma empresa pública é difícil e custoso 
  • Menos flexibilidade no processo de decisão e pressão por desempenho 
  • Restrições à negociação com ações por detentores de informações privilegiadas Vulnerabilidade a tentativas de ofertas hostis 


Fonte: Guia de abertura de capital – BM&FBovespa e PricewaterhouseCoopers

Rodolfo Zabisky, integrante do grupo de trabalho do PAC PME, diz que a cultura de investimentos brasileira também influencia no acesso de pequenas empresas à Bolsa de Valores, pois os investidores estão acostumados a ofertas muito grandes e com grande liquidez, ou seja, que dão retorno financeiro mais rápido.

 “No caso das pequenas empresas, o investidor tem que estar disposto a apostar numa empresa que vai crescer muito, mas ele tem que ser mais paciente do ponto de vista da liquidez.”

 À frente do PAC PME estão o MBC - Movimento Brasil Competitivo (que reúne as principais lideranças empresariais do país), a BRAiN (que reúne as instituições Anbima, Febraban e Fecomércio, dentre outras, e que visa catalisar a consolidação do Brasil como um polo internacional de investimentos e negócios), a IBEF-SP (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo), a Ancord (Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias) e a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).

 Como vender ações 

 O primeiro procedimento formal para a empresa abrir o capital é protocolar um pedido de registro de companhia na CVM. Simultaneamente, a empresa também pode solicitar a listagem na BM&FBOVESPA. Somente as empresas que obtêm esse registro podem ter suas ações negociadas na Bolsa.

 A BM&FBovespa possui vários segmentos de listagem (Tradicional, Nível 1, Nível 2, Novo Mercado e Bovespa Mais), com exigências específicas relacionadas à divulgação de informações (financeiras ou não), à estrutura societária, à estrutura acionária, ao percentual de ações em circulação e aos aspectos de governança corporativa.

 A maioria das empresas escolhe o Novo Mercado para se listar, mas o Bovespa Mais é um segmento específico para o acesso gradativo de pequenas empresas. No caso desse mercado de acesso, as empresas buscam aumentar sua exposição junto ao mercado, construindo um histórico de relacionamento com investidores.

 Os valores são menores aos usualmente captados nos demais segmentos de listagem, afirma Cristiana Pereira, diretora de relacionamento com empresas da BM&FBovespa. “O Bovespa Mais é voltado para empresas menores, que têm objetivo de captar recursos na faixa de de R$ 80 a R$ 150 milhões. A grosso modo, a gente imagina que são empresas que valem R$ 400 milhões e faturam a partir de R$ 50 milhões."

 Entre os diferenciais em relação aos demais segmentos de listagem, está a possibilidade de a empresa ter até sete anos para atingir até 25% de ações em livre negociação, o que representa uma possibilidade de adaptação gradual à nova condição de companhia aberta, adquirindo a confiança e despertando o interesse dos investidores. Além disso, o conselho de administração pode ter apenas três membros, e não cinco, como acontece no mercado principal.

 Para ver todos os passos para venda de ações na Bolsa, leia o guia da BM&FBovespa aqui.

 Empresa também pode negociar dívidas Se a empresa precisar de recursos em prazos menores, ela pode optar por vender papéis de dívidas na Bolsa em vez de negociar ações, assim, os investidores se tornam credores e não proprietários do negócio. São as notas promissórias (também conhecidas como commercial papers) e as debêntures. “Negociar dívida é menos custoso e mais rápido. Normalmente, a dívida é mais barata do que a ação porque o investidor, nesse caso, corre menos risco. Se ele empresta R$ 100, ele quer que a empresa possa pagar R$ 100. Já o investidor dono de ações paga mais e quer retorno maior”, explica Samy Dana. Assim como na emissão de ações, a empresa também precisa fazer um pedido de registro na CVM e na BM&FBovespa e se comprometer a divulgar todas as informações relevantes e exigidas pela BM&Bovespa. Para ver todos os passos para venda de dívidas na Bolsa, leio o guia da BM&FBovespa aqui.
Por Larissa Coldibeli
 Fonte: UOL Economia 08/01/2013

08 janeiro 2013



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