22 outubro 2012

BNDES estimula acesso de empresas menores à bolsa

O BNDES tem um plano para ajudar no desenvolvimento do Bovespa Mais, segmento de listagem de empresas de menor porte da BM&FBovespa. A iniciativa se soma à proposta que entidades do mercado prepararam para levar ao governo, com o objetivo de criar incentivos fiscais a fim de atrair pequenas e médias empresas para o mercado de capitais no Brasil, conforme noticiado pelo Valor na semana passada.

A estratégia do banco de fomento é dividida em três frentes. A primeira é tentar estimular um grupo de 34 empresas de pequeno e médio portes em que a instituição já tem participação acionária a se listar voluntariamente no segmento. Essa carteira de investimentos, avaliada atualmente num total aproximado de R$ 800 milhões, é voltada para companhias de capital fechado, principalmente de base tecnológica, e com faturamento anual limitado a R$ 500 milhões.

 A expectativa do banco é que dez dessas empresas, que atuam em segmentos como os de fármacos, tecnologia da informação e indústria química, aceitem a proposta de se listar no Bovespa Mais num intervalo de 12 meses, mesmo sem realizar uma oferta para captar mais recursos.

 Como segunda iniciativa, o BNDES passou a adotar como diretriz (embora seja um regra com exceções) que, nos acordos de acionistas dos novos investimentos que venham a ser feitos, as empresas se comprometam a entrar no Bovespa Mais no intervalo de um ano após o aporte. Dos quatro investimentos feitos neste ano, dois já se enquadraram nesse critério.

 Olhando para o médio e longo prazos, o terceiro passo previsto, que também poderá ter exceções, é que o banco de fomento não faça mais aportes nas empresas enquanto elas tiverem o capital fechado, mas que entre como uma espécie de investidor âncora em uma oferta pública inicial de ações organizada já no Bovespa Mais.

 Uma das três empresas que já está no segmento, a Senior Solution, que desenvolve sistemas de informática para instituições financeiras, integra a carteira do BNDES. A Nortec Química, do ramo farmacêutico, é outra investida que já pediu registro de companhia aberta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

 A estratégia foi descrita ao Valor por Luiz Antonio Gonçalves Souto, superintendente de capital empreendedor do BNDES. Segundo ele, é muito prejudicial para o país que não haja espaço para realização de ofertas de ações com valores inferiores a R$ 400 milhões ou R$ 500 milhões (ver quadro nesta página). "É por isso que o banco quer fortalecer esse mercado", diz ele.

 Souto está entre aqueles que o Bovespa Mais passará por um processo semelhante ao que ocorreu com o Novo Mercado. Depois de anos com apenas duas empresas listadas, o segmento de elevada governança corporativa finalmente decolou a partir de 2004 e hoje reúne mais de cem companhias. "A sensação que eu tenho ao conversar com representantes de fundos e empresas é que agora é a hora de esse mercado [de acesso] acontecer", afirma.

 Segundo ele, essas 34 empresas de carteira ainda estão investindo o dinheiro captado com o banco, e não precisam de novos recursos agora para os projetos existentes. "Por isso estamos conversando e sugerindo que elas entrem no Bovespa Mais, mas só se listando", diz o executivo.

 A conversa é feita na base do convencimento, já que os acordos de acionistas foram firmados no passado. Embora eles prevejam condições de saída para o banco em algum momento no futuro, não está determinado nenhum caminho pré-estabelecido.

 Mesmo já tendo recebido apoio do banco de fomento, é importante que essas empresas tenham uma porta aberta para captar novos recursos para projetos futuros. Valter Manfredi, chefe de departamento desta área no BNDES, ressalta que existe um limite para participação do banco no capital dessas companhias, que normalmente fica em 25%, mas não passa de 33%, e também para os financiamentos concedidos, levando em conta a relação dívida/patrimônio.

 Segundo Souto, o incentivo para que as empresas se listem no Bovespa Mais não significa que o BNDES tenha urgência para se desfazer das participações. "Não temos pressa para sair. Podemos esperar seis meses, um ano, dois anos, três anos... sem problema." Normalmente, segundo o executivo, os investimentos são feitos com horizonte próximo de cinco anos.

 De acordo com ele, nos últimos anos criou-se um discurso pronto de que é muito caro se listar na bolsa, por conta de gastos com publicações, assessores jurídicos, auditorias etc. "Não que não seja importante, mas essa questão está perdendo peso no discurso", entende Souto.

 A BM&FBovespa também estuda alternativas de como facilitar o acesso das empresas menores ao mercado, mas ainda não divulgou seus planos.

 Cristiana Pereira, diretora de relacionamento com empresas da bolsa, revela, no entanto, que tem aumentado o interesse de intermediários de menor porte em se informar sobre como trabalhar em emissões de empresas menores e de volumes mais reduzidos. No exterior, não são os grandes bancos de investimento que coordenam as ofertas das empresas pequenas e médias em mercados de acesso.

 A bolsa estuda ainda apresentar propostas aos reguladores no sentido de reduzir o custo com publicações em jornais e também a criação de ofertas com esforços restritos apenas para investidores qualificados, numa oferta simplificada, a exemplo do que existe para renda fixa.

 Na visão da BM&FBovespa, o lado do investidor não é um problema. "Tem gente que se interessa por esse mercado, mesmo com a liquidez menor, como "family offices", investidores de valor e fundos de pensão, mesmo que seja indiretamente, porque eles são muitos grandes", diz Cristiana.

 Em termos de custos de intermediários, a BM&FBovespa apurou que algumas das experiências internacionais envolvem mecanismos diferentes de remuneração. Enquanto no Brasil os advogados trabalham com honorários garantidos, em alguns países eles só recebem em caso de sucesso da operação, assim como já ocorre com os bancos. 

Em relação às instituições financeiras coordenadoras, lá fora é comum em operações menores que alguns bancos recebam pagamento via opções de ações da empresa que abre o capital. Isso ocorre até mesmo para manter o vínculo com a empresa e o alinhamento com os investidores, após a conclusão oferta. Valor Econômico
Fonte: temporeal 22/10/2012

22 outubro 2012



0 comentários: